São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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Incidente abala relação patroa-empregada

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A relação entre patroa e empregada doméstica recebeu na semana passada um golpe cortante. A atriz Vera Fischer, 44, foi acusada pela ex-babá de seu filho Sandra Vasconcellos, 25, de agredi-la a tesouradas.
Vera negou a agressão, dizendo que apenas se defendeu. "Se eu não fosse forte o suficiente para me defender teria virado um tomate", afirmou no dia seguinte.
Casos como o de Vera e Sandra não são tão raros quanto se imagina. "As empregadas aparecem aqui contando as histórias mais incríveis", diz a diretora do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Município de São Paulo, Noêmia dos Reis, 57, que atende uma média de 40 mulheres por dia.
"A maior parte delas se queixa que teve os documentos rasgados pelo patrão, para não ser registrada", diz Noêmia. Um desses casos, segundo ela, envolveu a produtora e ex-jurada de programa de calouros Cinira Arruda, 50. "Ela mandou a empregada embora, depois de se recusar a registrá-la", diz Noêmia.
"Tive problemas com três empregadas, mas nunca por causa de registro", diz Cinira. "Uma fazia parte de uma quadrilha de assaltantes, a outra disse que eu a dispensei grávida e a terceira roubou meu passaporte", afirma.
Cinira acredita que Sandra Vasconcellos tenta se aproveitar de Vera Fischer. "Ela quer uma indenização, está na cara", diz.
A polícia do Rio abriu inquérito para apurar a denúncia de Sandra contra a atriz Vera Fischer.
"O segredo da boa relação com a patroa é o respeito", afirma a empregada doméstica Maria José Prado, a Zezé, 59, que trabalha há 25 anos na casa da atriz Regina Duarte.
"Fui babá dos três filhos dela, moro lá esse tempo todo (não tenho família) e sempre me trataram muito bem", diz.
A presidente do Sindicato dos Empregadores Domésticos do Estado de São Paulo, Margareth Carbinato, 41, é contra a agregação da empregada doméstica à família. "Essa história de tratar empregada como pessoa da casa é um erro", diz. "A gente acaba se envolvendo, e ela se aproveitando. Na minha casa, empregada é empregada, patrão é patrão."
Segundo Margareth, a Constituição de 1988 modificou a legislação da categoria, mas não foi bem interpretada pelas domésticas. "Elas absorveram muito bem os direitos e pessimamente os deveres", afirma.
Por mais direitos que se dêem às empregadas domésticas, não existe profissão pior que a delas, na opinião da atriz Nair Bello, 64. "Aguentar patroa deve ser um saco", afirma. "Ainda mais aquelas que não têm hora para nada, almoçam e jantam quando dá na telha."
Nair tem a mesma empregada há 33 anos e diz que um dos segredos do bom relacionamento é a sua consciência do trabalho doméstico. "Sou do tipo que participa de tudo na cozinha. Faço comida e ajudo a lavar a louça sem nenhum problema", afirma.
Ela acha que a relação com a empregada hoje é mais difícil do que há 30 anos, mas não acredita em tudo que dizem sobre o caso de Vera Fischer. "É claro que é um exagero, coitadinha da Vera. Trabalhamos juntas (na novela "Perigosas Peruas") e sei que ela é incapaz de agredir alguém. É lógico, quando se bebe um pouco as coisas se transformam, mas também não é assim", diz.
A empresária Fernanda de Góes, 30, não acredita que haja exagero algum na história contada pela babá Sandra. "Já tive vontade de esfaquear minhas empregadas várias vezes", afirma.
Fernanda trocou sete vezes de cozinheira em apenas um ano e diz que a "inconstância" é delas. "Elas mudam de humor a toda hora, um horror", diz.

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