São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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Sorteio acentua diferenças

SÍLVIO LANCELLOTTI

Por favor, que me perdoem os colegas. Nenhum analista destas plagas, todavia, se preocupou em observar que o sorteio dos grupos eliminatórios da Copa de 98, na França, detonou de vez a unidade aparente do futebol no mundo.
Ponto um: o ministro dos Esportes do Brasil, Edson Arantes do Nascimento, a maravilha Pelé, desprezou o evento de Paris e, doce represália, na sua ausência, puniu o seu compatriota João Havelange, o presidente da Fifa, pelo seu corte imperdoável do sorteio da Copa dos EUA, em 1993.
Ponto dois: também não apareceu o presidente da Uefa, o sueco Lennart Johansson, que já se colocou, oficialmente, em oposição a Havelange, candidato a sua sucessão eventual em 1998.
Ponto três: em um lance de gênio, Havelange recuperou o apoio da África ao fazer um ultimato ao governo da França. A futura anfitriã da Copa não queria conceder os vistos de entrada aos delegados da Nigéria, nação que, recentemente, executou adversários do seu regime ditatorial.
O duro João, porém, informou a sua hospedeira que cancelaria o sorteio, e talvez a Copa, se a França não cumprisse a sua obrigação de acolher os indesejáveis.
Ponto quatro: no cerne de toda essa complicação, a Fifa, de modo sutil, criou o maior problema do planeta para os clubes da Europa, ao perfilhar uma proposta malévola da Conmebol, entidade que organiza o futebol sul-americano.
A sua proposta prevê as eliminatórias continentais em um único torneio de nove seleções, todas contra todas, em turno e returno.
Beleza, as seleções da Conmebol arrecadarão um bom dinheiro em tal certame, que se iniciará em 24 de abril de 96 e apenas se encerrará em 16 de novembro de 97. Cada uma das suas equipes disputará 16 combates. Como ficará, no entanto, a situação dos atletas sul-americanos que atuam presentemente em clubes da Europa?
A Itália já protesta. No dia 24 de abril, começa a decisão da Copa nacional. Uma final com a Fiorentina do argentino Batistuta ou com a Internazionale do também platino Zanetti. Na mesma data, entretanto, a Conmebol prevê o confronto de Argentina e Bolívia pelas eliminatórias sul-americanas.
Feitas as contas, os times da Europa não usarão as suas estrelas sul-americanas em 25% dos seus jogos de 96 e de 97. Por causa da política, azar dos craques. Quem contratará os atletas argentinos e os uruguaios, e outros, que não poderá utilizar?

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