São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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Equipe busca no cérebro área responsável por esquizofrenia

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Usando técnica especial, baseada na média de imagens cerebrais vivas obtidas com auxílio da ressonância magnética (RM), Nancy Andreasen, da Universidade de Iowa (EUA), pensa haver localizado, no tálamo, estrutura situada na região subcortical do cérebro, a lesão básica da esquizofrenia.
Termo criado por Eugen Bleuler em substituição à demência precoce de Kraepelin, a esquizofrenia é um grupo de doenças caracterizadas por alterações ideoafetivas, constituindo grave distúrbio emocional psicótico profundo que se manifesta por vários sintomas caracterizados por fuga da realidade e delírios, alucinações, desarmonia e conduta regressiva.
Sendo os sintomas muito variados, os especialistas têm procurado a causa geral da condição nos mais diversos pontos do cérebro, especialmente nos mais diretamente relacionados com os comportamentos anormais. E isso tanto no córtex quanto nas regiões subcorticais.
Andreasen e seu grupo, que publicaram artigo na revista "Science" (226, 294), entenderam ser mais prático procurar solução mais "econômica" numa camada cerebral única.
Dentro dessa ordem de idéias, recorreram a uma média especial de imagens de RM comparativamente em esquizofrênicos e indivíduos normais.
Nos últimos anos, os especialistas têm descrito anomalias anatômicas e bioquímicas isoladas em esquizofrênicos. Mas Andreasen é a primeira a indicar uma causa única.
Não é ela, todavia, a primeira a aplicar a RM na busca de alterações em cérebros esquizofrênicos.
Mas, às técnicas já em uso, ela adicionou aperfeiçoamentos importantes, especialmente no que se refere ao esquadrinhamento (ou "da imagem.
Com esses aperfeiçoamentos, ela conseguiu obter mais imagens de maior número de "fatias" dos cérebros vivos e comparar as imagens com as de pessoas normais.
Assim, captou imagens médias de ambos os tipos de cérebro. A diferença entre as médias, obtidas por meio original, revela a anomalia básica, que no caso está no tálamo. Este funciona como central de conexões ou filtro das informações destinadas a toda a área cortical. O comportamento do indivíduo dependeria do grau de sobrecarga dessa rede.
A idéia básica do método, primeiro desenvolvido por Alan Evans, do Montreal Neurological Institute, é mapear as varreduras de cada cérebro num sistema padrão coordenado, a fim de criar um cérebro médio tridimensional.
O estabelecimento da média remove as diferenças grosseiras de tamanho, orientação e dimensão e permite, ao mesmo tempo, focalizar objetivamente as delicadas diferenças anatômicas e funcionais.
Qualquer defeito no tálamo, que aliás é menor nos esquizofrênicos, tende, pois, a refletir-se no córtex, motivando as anomalias esquizofrênicas do indivíduo.
Todos os sintomas da doença, segundo Andreasen, poderiam ser explicados por alterações num importante circuito talâmico. Existem, todavia, cientistas que, embora aceitando os dados de Andreasen, discordam de sua conclusão de que esse órgão é causa e origem da doença. As anomalias, para eles, tanto poderiam ser causa como consequência do mal.

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