São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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Droga e crime

A fuzilaria em que inadvertidamente se envolveram torcedores do Santos que estiveram quarta-feira no Rio para ver o jogo contra o Botafogo poderia motivar mais um daqueles escritos indignados contra a violência. Mas, sem que se deixe de condenar o episódio de maneira enfática, talvez seja mais útil abrir uma discussão sobre a raiz da criminalidade em todo o país.
No caso da fuzilaria de quarta-feira, ficou bem claro que o aspecto "comercial" foi fator predominante. Os atacantes, suspeitos de narcotráfico, desconfiaram de uma invasão de seu território por parte de uma quadrilha adversária.
Só assim se explica o fato de os criminosos, ao verificar que os "invasores" eram apenas torcedores extraviados, os tenham ajudado a sair da armadilha. A criminalidade não vinculada ao "comércio" (no caso, o comércio da droga) não teria, como é óbvio, poupado ninguém para não deixar testemunhas.
Se foi assim, é razoável imaginar que ao menos parte da violência que fustiga cotidianamente o país está associada ao caráter ilegal do "comércio" em referência. Logo, é razoável especular sobre o que aconteceria se se descriminassem as drogas. Haveria uma redução da violência ou, ao contrário, o aumento do número de compradores elevaria a violência ligada à alteração comportamental dos viciados?
No caso da Holanda, que liberou em 76 o consumo de drogas leves (maconha e haxixe), os números estimulam a crença na primeira hipótese. Em uma década, caiu de 14% para apenas 2% da população jovem (até 22 anos) a porcentagem dos que usam drogas pesadas. Os consumidores desse tipo de droga (cocaína e heroína, basicamente) são hoje 1,6 para cada grupo de mil habitantes, quando, nos EUA, a proporção é seis vezes maior.
Esses são elementos que deveriam levar a sociedade e as autoridades a um debate sério sobre o fenômeno drogas/criminalidade. A alternativa, a intensificação da repressão, parece, no Brasil, de difícil aplicação, conhecidas que são as carências orçamentárias e o grau de desagregação do aparelho policial.

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