São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"nem com terra eu paro"

A seguir, Diolinda Alves de Souza fala sobre ocupações, pegar em armas, reforma agrária e as acusações contra seu marido, José Rainha Jr..

Você continua a favor das ocupações?
Sempre fui e sempre serei. A ocupação é a única forma de tu resolver o problema social. A luta nunca pára. A gente morre, tem alguém para substituir. Se o governo fizesse a reforma agrária, não haveria necessidade de se ocupar uma terra. É muito difícil enfrentar um barraco de lona por dois, três meses. A lona esquenta, a saúde não é das piores, mas também não é das melhores. A educação dos meninos fica prejudicada.
Você pensa em ter uma terra sua?
Imagine se não. Não quero coisa grande. Para mim, 12 hectares já está bom. Dá para plantar de tudo um pouco e criar galinha, porco.
Se tiver a terra, você pára de ocupar?
Acho difícil.
Dizem que, até sua prisão, você vivia à sombra do Rainha, não tinha importância no movimento.
Se eu passei por tudo isso, é porque algo eu fiz. Na organização, não há o Rainha nem a mulher do Rainha. Há a luta, o movimento dos sem-terra.
Rainha está sendo acusado pelo assassinato de um policial e um fazendeiro no Espírito Santo, há seis anos, durante uma ocupação de terra. Foi ele?
De fato, os dois morreram, só que não se sabe quem matou. Acusaram o Rainha, mas ele nem estava lá.
Você já usou armas em alguma das ocupações de que participou?
Nunca. Se fosse o caso, eu não estaria no MST. Para se armar, se proteger, tu precisa ter preparação. Como não tenho, a arma pode acabar matando eu mesma.
Você nunca recebeu nenhum tipo de treinamento de guerrilha?
Imagine.
Nunca deu um tiro?
Tampouco.
Dentro do MST, existe gente favorável ao uso de armas?
Que eu saiba, o MST jamais pensou em se defender com armas. Só se preocupa em divulgar a luta para a opinião pública.
Teme que aconteça alguma coisa com você durante uma dessas ocupações -levar um tiro, por exemplo?
Tudo é possível, mas não tenho medo, não.

Texto Anterior: violência choca produtores
Próximo Texto: Kravitz bota fogo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.