São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Goleiro se diz vingado com a conquista

MÁRIO MAGALHÃES
EM SÃO PAULO

Herói da conquista do título brasileiro, o goleiro Wagner disse que o Botafogo se "vingou" da equipe e da torcida do Santos.
"Eles nos menosprezaram", afirmou, chorando. "Fomos humilhados desde quarta-feira, no Maracanã. Eles comemoraram a derrota, achando que seria fácil nos vencer aqui."
"E agora? Quem é campeão? Cadê a torcida deles? Olha lá a nossa, festejando."
No "revival" do grande duelo nacional dos anos 60, o Botafogo empatou ontem com o Santos e conquistou seu primeiro Campeonato Brasileiro. A competição é organizada desde 1971.
Wagner chorou nos mais de 15 minutos que ficou em campo após a partida. Com seu nome gritado pelos torcedores, ele afirmou: "Que o pessoal do Santos aprenda que cortar e pintar cabelo antes da hora não dá".
O triunfo pessoal de Wagner é mais um golpe no mais arraigado tabu racista do futebol do país: o de que goleiros negros são ruins.
A idéia foi disseminada depois que, injustamente, o goleiro negro Barbosa foi responsabilizado pela derrota do Brasil na final da Copa do Mundo de 50.
A vitória no campeonato marcou o reencontro do Botafogo com sua torcida.
Após a partida de quarta-feira, o zagueiro Gonçalves protestou contra o "silêncio" dos torcedores. Ontem, subiu no alambrado e chorou.
Eufórico, o meia Beto berrava: "É o peixe quem morre na praia". O atacante Donizete disse que jogou "no sacrifício porque não conseguiria ficar fora da final".
Numa cena rara no futebol, Donizete já entrou em campo mancando por causa de uma lesão num músculo da coxa direita.
"Sábado à noite, no hotel, os jogadores se juntaram para fazer uma oração por mim. Ali, vi que iria jogar", contou Donizete.
Por causa da lesão, ele deve ser cortado da seleção brasileira que enfrenta a Colômbia, na quarta-feira, em Manaus.
O técnico Paulo Autuori disse que escalou Donizete, e o manteve até o fim do jogo, também por questões "psicológicas". "Sabíamos que o Santos tem um respeito especial por ele."
Autuori afirmou que tirou o lateral-esquerdo André Silva no intervalo porque o jogador estava com dores nas costas devido a uma contusão antiga.
Ao chegar no Pacaembu, Autuori esticou-se para tocar na parte de cima da porta do vestiário e fazer o sinal da cruz.
No túnel, antes de entrar no gramado, o time repetiu o ritual de toda a competição. Um jogador disse: "Um por todos". Os outros gritaram "E todos por um", como os Três Mosqueteiros.
No vestiário, o clube lançou a campanha "Tóquio 96". A equipe disputará a Taça Libertadores da América no ano que vem. Se vencer, decidirá o Mundial interclubes no fim do ano, no Japão.

Texto Anterior: Cabralzinho volta a usar 'risco total'
Próximo Texto: Túlio se diz Deus da bola
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.