São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995 |
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Banhista apita para esconder droga
RONI LIMA
Nos fins-de-semana, quando aumenta a ação da PM (Polícia Militar), sempre se ouvem os apitos nos dois quarteirões da praia entre as ruas Vinicius de Moraes e Maria Quitéria -principalmente próximo ao Posto 9. Ali -ponto considerado por banhistas como um "território livre"- podem ser encontrados vários jovens com apitos em suas bolsas ou pendurados em seus pescoços. A idéia surgiu há três meses de um autodenominado "coletivo de anarquistas", que frequenta a praia há anos. "Esse ponto tem uma tradição de doidões, como o Cazuza, que sempre estava aqui. Mas, de um ano pra cá, começou essa repressão ostensiva da PM", reclama o músico Alexandre Santin, 32. Insatisfeitos com o que consideram "uma escalada sem sentido" da repressão policial, Santin e 15 "amigos anarquistas" passaram a discutir uma forma de protesto. O grupo pratica e estuda a história da capoeira angola, um jogo de dança e luta de origem negra muito combatido pela polícia do Rio nos anos 40. Segundo Santin, quando a polícia se aproximava, os capoeiristas mudavam o ritmo do berimbau, para avisar da chegada da repressão. Daí nasceu a idéia do uso do apito -um acessório da própria polícia. Desde então, já foram distribuídos panfletos e cerca de 1.500 apitos. "Eles ficam desnorteados. É engraçado, porque usamos a própria arma da PM", diz Santin. Para a artesã Rose Pinheiro, 22, apitar hoje na praia "é uma atitude fundamental" de protesto contra a repressão do Estado. O anarquismo é um movimento que se caracteriza pela contestação à existência dos partidos políticos e do aparelho estatal, como é o caso da força policial. O deputado estadual Carlos Minc (PT) diz frequentar a praia há anos e defende o direito de quem quer fumar maconha. "Eles não jogam pedra, não fazem confusão, não se armam. Apitar hoje na praia significa seguir a linha de Gandhi: a desobediência civil pacífica." Os apitos têm irritado PMs que atuam na praia. Mas, apesar de dificultar o trabalho policial, não tem impedido a detenção de usuários de maconha em seu denominado "território livre". "De vez em quando, eles (os PMs) autuam um para ver se intimidam", afirma a jornalista Lidia Pena, 43. Há poucos dias, uma garota que ela conhece foi presa fumando um pequeno cigarro de maconha. Texto Anterior: Cantora doa sangue hoje para campanha; O NÚMERO; Presidente da Firjan retoma trabalho; Garoto é eletrocutado por sauna de hotel; SUPERSENA Próximo Texto: Contestação marcou local no final dos anos 70 Índice |
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