São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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Reformas abruptas prejudicam aprendizado

DA REPORTAGEM LOCAL

"Reformas administrativas abruptas que impliquem em remanejamento da clientela e de professores, alternância incessante de orientações pedagógicas ou drástica reformulação das atividades escolares mostram-se temerárias, pois tendem a desarticular e fragmentar ainda mais o cotidiano escolar, agravando os problemas já existentes."
A afirmação -que se contrapõe à atual reforma no ensino de São Paulo- é de Mário Koyama, 32, que acaba de defender a dissertação de mestrado "Confrontos no Ensino: Um Estudo Psicossocial em Situações Concretas", na USP.
Koyama -graduado em física pela Unicamp- trabalhou como professor em diversas escolas da periferia paulistana e, com essa experiência, decidiu pesquisar os elementos que problematizam a relação ensino-aprendizagem em escolas com clientela pobre.
Durante um ano, visitou duas classes, uma de 5ª série noturna em uma escola "pobre" em Campo Limpo (zona sul de São Paulo) e outra de 1ª série do 2º grau em uma escola de classe média-alta, em Higienópolis (região central). Ambas as classes tinham alunos da mesma faixa etária: 15 a 16 anos.
A primeira constatação -a partir da literatura disponível- é que há "um movimento de crítica das práticas pedagógicas e dos professores" sobre dois pontos principais: "incompetência técnica e falta de compromisso político".
Para Koyama, o problema é que essas críticas são genéricas, enquanto "o professorado é extremamente heterogêneo".
Assim, diz ele, "os professores internalizam um sentimento de culpa em relação ao exercício de poder, onde o controle e disciplina são equiparados à submissão de uma classe social por outra".
Mas é na sala de aula onde as diferenças de uma escola de meio pobre e outra de classe média ficam mais evidentes.
Enquanto na escola de classe média o professor é a figura central -em contraposição aos alunos que formam o "fundo" dessa figura-, em escolas pobres essas relação se inverte: os alunos são a "figura" (no esquema conceitual da guestalt) e os professores, "fundo".
Como os alunos são a figura central, os temas que eles levam à sala de aula acabam marcando toda a relação de ensino-aprendizagem.
Koyama distinguiu cinco dessas questões em escolas de periferia: multirrepetência, pobreza, violência, preconceito à negritude e marginalização.

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