São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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Sucesso desgastou o trabalho do conjunto

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Não é só a indústria do disco que continua remexendo no baú do Nirvana. Na semana passada Courtney Love, cantora e viúva de Cobain, declarou para a revista "NME" que quer realizar exposições em sua casa em Seattle com as pinturas de Cobain. Para isso, estaria convidando museus a visitarem e avaliarem o acervo.
Além do lançamento no Brasil da caixa de singles, o ano de 95 ainda trouxe outros mimos para os fãs da banda. A mesma BMG lançou aqui o vídeo de "Live! Tonight! Sold Out!", em que são reunidos vários momentos ao vivo da banda.
A editora portuguesa Assírio Alvim lançou em edição nacional "Nirvana", um livro com as letras traduzidas da banda.
Se Cobain se suicidou porque não podia ser prisioneiro do sucesso, como declarou várias vezes antes da fatídica tarde de 8 de abril de 94 (quando foi encontrado morto em sua casa em Seattle por um eletricista), esses e outros exemplos mostram que ele ainda está longe de atingir seu objetivo.
O sucesso e o assédio ainda rondam o que restou do grupo, à caça de relíquias, gravações caseiras, cartas, objetos. O mesmo sucesso e assédio que foram, gradativamente, desgastando a banda.
O começo do fim
O último disco do Nirvana deveria se chamar "I Hate Myself, I Wanna Die". Pouco tempo antes de ser editado, trocou para "In Utero". O próprio produtor da banda, Steven Albini, acusou-os de amenizar as faixas para fazer um disco mais comercial.
Alguns meses depois, Kurt Cobain dá uma entrevista para a revista "Rolling Stone" declarando que o som da banda estava se repetindo. A fórmula parecia ter se esgotado. Três meses depois, em abril de 94, o bilhete deixado para ser lido depois do seu suicídio dizia: "Perdi a paixão".
O fim do Nirvana coincidiu com a frustração da banda em ter se tornado um estereótipo. O "grunge" seria tão datado quanto o "dark" ou o "new wave".
A temática drogas-desesperança contagiou-os até que o sucesso se tornou incompatível. O desajuste ficou claro em pelo menos duas ocasiões. Num show em Seattle, em 91, os músicos quebram seus instrumentos. Em 93, durante o show no Brasil, Cobain cospe na câmera da Globo.
(SC)

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