São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Turnê de "Domingo" mostra Titãs em fase pop

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os Titãs iniciam hoje, no Ginásio do Ibirapuera, a turnê de seu novo álbum, "Domingo".
Apesar de produzido pelo americano Jack Endino, como o pesado álbum anterior ("Titanomaquia"), "Domingo" é o trabalho mais pop da banda desde "Õ Blésq Blom" (1989).
Em entrevista à Folha, após uma tarde de autógrafos no Shopping Paulista, os Titãs (menos o resfriado Nando Reis) disseram que "Domingo" recupera o passado menos agressivo do grupo.
Mais do que músicas novas, o que os Titãs apresentam hoje, no Ibirapuera, é mais uma reviravolta em sua carreira.

Folha - Os Titãs estão deixando de lado aquela fase mais pesada dos discos e shows anteriores?
Paulo Miklos - Estamos fazendo as pazes com o nosso repertório como um todo, no sentido de que o novo show não deixa de fora nenhuma vertente do nosso trabalho.
Branco Mello - O interessante é que a gente está tocando músicas que não toca há quatro ou cinco anos, como "Go Back", "Comida", "Televisão" e "Família", que o Arnaldo cantava e que a gente está reintegrando.
Toni Bellotto - Isso veio da reflexão que fizemos depois que a banda resolveu parar. A gente voltou das férias disposto a soar mais como soou a carreira inteira.
Folha - Por isso "Domingo" é mais pop que os últimos discos?
Marcelo Fromer - Não tem a bandeira de a banda ser pesada ou virar leve. Mas a gente não estava mais trabalhando certos tipos de canções que gosta.
Toni Bellotto - A gente perseguiu, durante dois discos, essa coisa do som pesado, que, na verdade, já fazia no palco desde "Televisão".
Marcelo Fromer - Acho que o "Titanomaquia" tirou esse nosso recalque. A etapa foi cumprida.
Branco Mello - Eu ouço agora o "Cabeça Dinossauro", que consideravam pesado na época, e acho leve. Queria, um dia, remixá-lo.
Folha - "Titanomaquia" foi gravado com raiva, devido à recepção da crítica ao álbum anterior. "Cabeça Dinossauro" também surgiu num momento de fúria. É coincidência que, quando se fala bem dos Titãs, o disco seguinte vem mais leve?
Toni Bellotto - Quando a gente está irado faz discos mais ácidos. Mas uma banda do tamanho dos Titãs vai ter sempre o que provar.
Folha - O que vocês tinham que provar com "Domingo"?
Sergio Brito - Que a gente estava vivo. As reportagens da época em que saíram os discos solos diziam que os Titãs tinham acabado.
Folha - Titãs foi a única banda dos anos 80 que procurou sempre soar mais pesada. Nunca pensaram em ser apenas uma banda pop?
Paulo Miklos - É isso o que a gente veio mostrar em "Domingo": que é uma grande banda pop pesada. Acha que é fácil?
Existem descaminhos nisso. De repente, a gente pesa demais. Mas a gente começou com "Sonífera Ilha". Isso mostrou de cara a nossa vocação pop.
Ao mesmo tempo, sempre fomos punks no palco, até quando tocávamos a mesma "Sonífera Ilha". A banda é a soma desses dois aspectos e estamos tentando retomar isso.
Sergio Brito - A gente tem a sorte de manter um público fiel, apesar de ter feito músicas tão diferentes. Em geral, o público é mais segmentado. Se alguém pode experimentar somos nós. Não sei se os Paralamas iam conseguir gravar uma música pesada.
Folha - Por que os Titãs abandonaram o selo Banguela?
Charles Gavin - O Banguela não deveria interferir nos negócios dos Titãs com a Warner. Mas sempre interferiu. Chegou num ponto em que realmente abalou nossa relação com a gravadora.
O maior erro foi querer ajudar todo mundo. Depois de dois anos, a gente tinha mais de 50 bandas no selo. A Warner deu um toque preciso: "Vocês têm mais gente que nós. Estão loucos".
Mas a Warner não distribuiu bem, nem deu a atenção necessária para as bandas do selo.
Depois de ser arrastado para uma troca de acusações com a Warner, a gente resolveu botar o Banguela para dormir.
Folha - Vocês ficaram magoados com os Raimundos, por trocarem o Banguela pela Warner?
Charles Gavin - Ficamos, mas faríamos o mesmo que eles, porque os contratos foram malfeitos.

Show: Titãs
Quando: Hoje, às 21h
Onde: Ginásio do Ibirapuera (r. Manoel da Nóbrega, 1.361)
Preço: De R$ 10 a R$ 20

Texto Anterior: Pecados capitais se intensificam no Natal
Próximo Texto: Porquinho Babe cativa crianças e adultos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.