São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 1995
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Prefeito de Jerusalém quer tolerância palestina

HELIO GUROVITZ
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

"A melhor defesa é o ataque". Com essa frase, comparando-se ao atacante brasileiro Romário, o prefeito de Jerusalém, Ehud Olmert, 50, definiu ontem em São Paulo sua linha política.
Sobre a devolução de Belém aos palestinos, afirmou esperar que "os muçulmanos demonstrem tolerância suficiente em relação à natureza cristã da cidade".
Segundo ele, as boas relações que mantém com Elias Freij, prefeito de Belém, devem garantir o acesso de peregrinos vindos de Jerusalém à cidade.
Os limites de Belém ficam a poucos metros de Jerusalém, cuja soberania Olmert não aceita ceder. "Absurda", disse sobre a possibilidade de uma capital palestina no setor oriental da cidade.
Os palestinos constituem 28% da população de Jerusalém e cerca de 50% da população do lado oriental, anexado por Israel após a Guerra dos Seis Dias (1967).
Casado e pai de quatro filhos, Olmert foi eleito para o Knesset (Parlamento) aos 28 anos. Desde então, reelegeu-se cinco vezes pelo Likud (hoje na oposição).
Em 1993, numa eleição histórica, derrotou com 60% dos votos o trabalhista Teddy Kollek, que governava Jerusalém havia 28 anos.
Assessor próximo de Menachem Begin e ministro no governo de Yitzhak Shamir, Olmert manifestou dúvidas sobre a confiabilidade do líder palestino Iasser Arafat e disse que extremistas judeus não são um grande problema para Israel. Leia abaixo trechos da entrevista que concedeu à Folha.

Folha - Qual sua visão do processo de paz entre Israel e OLP?
Ehud Olmert - Agora, estamos perto da época mais crucial para o processo de paz, porque Arafat está tomando controle de grande parte da Cisjordânia. A maior questão é se ele tem capacidade para controlar a segurança e o terror dentro desses territórios. Tudo depende da capacidade de Arafat em relação à manutenção da paz.
Folha - O sr. acha que Arafat é uma pessoa confiável?
Olmert - Pessoalmente, não estou muito seguro disso. Mas ele tem de prová-lo.
Folha - O que o sr. acha da reivindicação da OLP de Jerusalém oriental como capital?
Olmert - Absurda. Isso nunca vai acontecer. Jerusalém nunca foi uma cidade dividida, exceto durante 19 anos. Festejamos agora os 3.000 anos de Jerusalém. Nesses 3.000 anos, Jerusalém só ficou dividida por 19 anos, entre 1948 e 1967. Nem nessa época foi capital de um país árabe. Jerusalém nunca foi capital de um país árabe ou muçulmano nem por um segundo.
Com que base Arafat quer agora que Jerusalém seja capital de um Estado que não existe? Como alguém pode falar em paz e ao mesmo tempo querer dividir a cidade?
Folha - Para ser eleito prefeito, o sr. fez coalizão com partidos religiosos. Qual a força desses partidos em Jerusalém?
Olmert - Os mesmos partidos religiosos também fizeram coalizão com Teddy Kollek. Não há mudança, exceto que Kollek não está mais na coalizão.
Folha - Qual a diferença entre sua gestão e a de Kollek?
Olmert - Não acho que haja diferença nas relações entre judeus seculares e religiosos. As pessoas falam mais nisso, mas na prática não há muita diferença. A maior diferença está no enorme esforço de desenvolvimento feito agora em Jerusalém. Nunca houve coisa igual na história recente de Jerusalém. Centenas de milhões de dólares estão sendo investidos em infra-estrutura, na construção de estradas, na indústria turística, hotéis, parques industriais etc.
Folha - Como o sr. compararia o tratamento aos palestinos antes e depois da paz?
Olmert - Em primeiro lugar, o que caracteriza o processo de paz é que os palestinos estão tomando cada vez mais controle direto de seus negócios. Estão encarregados de resolver seus problemas.
Folha - E o sr. é a favor disso?
Olmert - Sou favorável à autonomia dos palestinos. O resto ainda não sei, porque estamos negociando. Em Jerusalém, acho acho que o tratamento, ou as relações com os árabes estão melhores, porque minha administração é muito mais liberal para com as necessidades diárias dos árabes.
Folha - Por exemplo...
Olmert - Estamos investindo mais em educação nos setores árabes da cidade. Estamos investindo mais em infra-estrutura, no sistema de esgotos, de estradas e nas instalações turísticas.
Folha - Após o assassinato do premiê Yitzhak Rabin, o seu partido -o Likud- foi acusado de incitar o ódio entre judeus por atacar o processo de paz. O que o sr. acha dessas acusações?
Olmert - Há muita gente, setores políticos, que falam coisas que não deviam. O primeiro-ministro era um grande homem e eu fui um amigo pessoal dele por muitos anos. Estava com ele em Washington na semana anterior ao assassinato. Voei com ele de volta a Israel. Hospedei-o em Jerusalém.
E eu discutia com ele o tempo todo. Como alguém pode dizer que quando você discute com alguém quer sua morte? Isso é ridículo. Havia elementos em Israel, extremistas da ala direita, que falavam nesses termos sobre Rabin. Mas nada têm a ver com o Likud.
Folha - O sr. acha que o Estado de Israel será capaz de tomar as medidas necessárias para controlar os extremistas judeus?
Olmert - Falamos de poucas pessoas. Esse não é um grande problema para Israel. O maior problema de Israel é ser capaz de controlar os palestinos que incitam o terror em Israel.
Folha - O sr. concorreria ao cargo de primeiro-ministro?
Olmert - O candidato do Likud nas próximas eleições é Binyamin Netanyahu. Acho que ele é capaz de ganhar as eleições e vou apoiá-lo. O que vai acontecer no futuro ainda é cedo para dizer ...
Folha - Para quem o sr. gostaria de mandar um recado?
Olmert - Só há chance na vida para comemorar o aniversário de 2.000 anos de Cristo. Convido todos os brasileiros a vir festejá-los em Jerusalém.

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