São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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D. Paulo não defendeu aborto em casos de estupro, diz assessoria

DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA

A assessoria de imprensa da Arquidiocese de São Paulo divulgou ontem que o cardeal-arcebispo d. Paulo Evaristo Arns, 74, não defendeu o direito ao aborto em caso de estupro, conforme publicado pela Folha.
Segundo a assessoria, d. Paulo entende que, ao ser estuprada, a mulher deve procurar imediatamente um médico ginecologista e se submeter a um tratamento, como lavagem intra-uterina, para evitar a concepção.
Portanto, diz a assessoria, o cardeal não está em desacordo com a orientação oficial da Igreja Católica, que é contra o aborto.
O médico ginecologista e deputado federal José Aristodemo Pinotti (PMDB) diz que o assunto é controverso.
"Existe uma discussão secular sobre o assunto. Alguns entendem que já existe vida a partir da fecundação, outros não aceitam essa tese."
Repercussão
O arcebispo da Paraíba, d. José Maria Pires, disse que recorrer ao médico após um estupro não se caracteriza aborto. "O ser ainda não foi formado", afirmou.
Para Pires, que pertence à ala progressista da igreja, a declaração do arcebispo de São Paulo não caracteriza defesa ao aborto.
"Recorrer imediatamente ou depois do estupro ao médico não pode se caracterizar como aborto", declarou.
Ele disse que não concorda com a prática de aborto em qualquer circunstância, mesmo em casos de estupro. "Qual o caso extremo que justifica matar um inocente?"
O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Lucas Moreira Neves, se recusou a comentar a posição de d. Paulo Evaristo Arns.
"Não estou nem sabendo o que ele disse e não vou julgar pronunciamento de outro bispo", afirmou Neves à Agência Folha, por telefone.
Segundo o presidente da CNBB, cabe ao papa julgar as eventuais declarações polêmicas surgidas dentro da Igreja Católica.
Neves confirmou, porém, que a posição oficial da igreja continua sendo contrária ao aborto.

Colaborou a Agência Folha

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