São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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'Tensão pré-Natal' ataca mulheres

DA REPORTAGEM LOCAL

Calculadora em punho, sentada em um banco de shopping center na quarta-feira passada, Clébia Carneiro Martins, 25, fazia as contas. Não sabia se o dinheiro daria para todos os presentes.
"Tem que dar", dizia, inquieta. Clébia é uma das vítimas da nova "síndrome" da cidade: a TPN, tensão pré-natal.
"Fico muito preocupada. Tenho que comprar presente para marido, sogra, avó, um monte de parente...", diz Clébia.
A principal causa da TPN é o acúmulo de obrigações: é preciso comprar presentes, preparar a ceia, enviar cartões e planejar a viagem para depois do Natal.
Tudo isso enfrentando um trânsito que piora a cada dia: de segunda-feira para quarta-feira, o volume de congestionamentos piorou 26,7%. Eram 105 km de trânsito lento no início desta semana e 133,2 km, na quarta-feira à tarde. Estacionar no Shopping Center Norte, por exemplo, demora cerca de 30 minutos.
As mulheres são as mais afetadas pela TPN. "Tem muita cobrança. Às vezes, até me esqueço de compromissos, de tanto pensar nos presentes", conta a estudante Denise Pereira Rachel, 15.
"Essa época me deixa muito nervosa. Tenho que me livrar do namorado e do irmão e sair correndo para comprar presente", explica outra estudante, Renata Fernandes, 17.
A produtora de fotografia Vera Helena Gonçalves de Almeida Prado, 38, já se diz "morta" antes do Natal.
Ela faz aniversário no dia 25; o marido, no dia 24; no dia 26, viaja para uma casa de veraneio alugada. Na véspera de Natal, tem que organizar duas ceias: com a própria família e com a do marido.
"É uma loucura completa. E vai ser assim a minha vida inteira."
Os homens são vítimas indiretas da TPN. Quando chega a época do Natal, o comerciante Gilberto Francisco Inácio, 34, se arma de paciência. "A pior coisa é entrar no shopping e procurar um lugar para estacionar", afirma.
O mal também se manifesta em Gilberto no momento de acompanhar a família às compras. "É a criança que vai ao banheiro, a mulher que quer entrar em 50 lojas."
A melhor solução para a TPN, como ocorre com doenças "de verdade", é a prevenção. "Faço tudo bem antes. Já comprei os presentes, não mando mais cartão, só telefono e encomendo a ceia", diz a professora Suzana Lagano, 48.

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