São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Encalhe faz indústria dar desconto

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Às vésperas do Natal, quem produz panetones, carnes suínas, bebidas e brinquedos está batendo às portas dos supermercados e das lojas para oferecer produtos com desconto e em consignação.
Na consignação, o comerciante fica com o produto na loja e só paga o fornecedor depois que a venda é feita para o cliente.
"Isso é comum nos anos em que o Natal não é tão bom. A última vez que ocorreu foi em 91", diz Firmino Rodrigues Alves, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas).
Segundo ele, nesta semana alguns fabricantes procuraram o varejo para "pedir uma mão".
A saída dos supermercadistas foi aceitar os produtos em consignação até o início de janeiro. Isto porque, os comerciantes não querem ter de arcar com a sobra de produto, assim como a indústria.
Superoferta, preços menores e as compras de última hora podem até reverter uma tendência que era dada como certa até o último sábado, quando as vendas de dezembro eram inferiores às de novembro. Ou seja, tudo indicava que este Natal seria pior do que o de 94.
Grandes supermercadistas dizem que o movimento nas lojas é crescente desde quarta-feira e esperam um pico de vendas hoje.
João Carlos Braz da Silva, gerente-geral do Paes Mendonça da Penha, conta que o desconto varia entre 10% e 15% no tender, de 5% a 10% no lombo e no pernil e de 10% a 15% nos frangos gigantes. No caso do panetone, o abatimento é de 10% a 20% em marcas menos famosas. "O mercado não absorveu o que foi produzido."
Wilson Tanaka, presidente do Sincovaga, que reúne os pequenos supermercados, diz que os refrigerantes em garrafas plásticas descartáveis estão sendo vendidos com desconto de 7%.
Na cerveja de 600 ml a redução de preço chega a 10%. "Esse comportamento é totalmente atípico para esta época do ano", diz.
Nas lojas de brinquedos, as sobras de final de ano devem representar de três a quatro meses de vendas, diz Ricardo Sayon, presidente da Abreb, associação que reúne as revendas.
Em 94, lembra, o comércio de brinquedos virou o ano com estoque zero. "Em 95, a indústria e o comércio apostaram no consumo, especialmente no Dia da Criança, se estocaram e se deram mal."
Na Lojas Ao Barateiro, de brinquedos e presentes, os estoques estão de 10% a 20% maiores do que os do ano passado.
Para reduzir as sobras, a loja está comprando em consignação da indústria cerca de 400 itens de um total de 4.000 itens que trabalha.
"Para a indústria é melhor ter o produto na prateleira. E se não vender, devolvo", diz Jayme Blanc, sócio da Ao Barateiro.
Ele diz que, em número de peças, está vendendo mais do que em 94 -de 7% a 10%. Mas o faturamento caiu 10%.
Carlos Cimerman, sócio da PB Kids, diz que deve fechar 95 com estoque "altíssimo" de US$ 1,2 milhão. As compras para o Natal somaram US$ 3,1 milhões.
Em 94, diz ele, a PB tinha duas lojas, comprou US$ 1,2 milhão em brinquedos para o Natal e terminou o ano com estoque de US$ 80 mil. "Foi uma maravilha."
Na sua análise, este é um Natal fraco. "O consumidor tem medo de gastar. Estou vendendo 50% mais neste ano porque tenho mais cinco lojas. Mas considero este um Natal de recessão."
Na DB Brinquedos o estoque deve equivaler a 60 dias de vendas. Eduardo Armando, diretor, diz que neste ano a empresa estocou produtos de menor valor -até R$ 20- e por isso tem a chance de vender mais em janeiro.

LEIA MAIS
sobre vendas na indústria na pág. 2-8

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