São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Mercado de arte abre espaço ao artista jovem

Marchands e colecionadores apostam em novos talentos

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Há de novo no mercado de arte, nos sentidos de novidade e de repetição, uma leva de artistas plásticos jovens, com menos de 30 anos, que começa a despontar em mostras importantes e a ganhar destaque nas coleções de quem consome arte por prazer ou investimento.
Os trabalhos de alguns desses jovens já são cotados e vendidos a preços que variam entre R$ 1.500 e R$ 2.000.
Plasticamente, as obras têm formas diversas e usam materiais diferentes, mas, segundo os artistas e marchands, começa a prevalecer a tendência de trabalhos cada vez mais conceituais, construídos a partir de experiências pessoais e íntimas dos autores.
Thomas Cohn, 61, dono da galeria Thomas Cohn Arte Contemporânea, do Rio, diz que a "abundância" de artistas dos anos 80, que secou nos últimos quatro anos, começou a voltar em 1995.
Vários desses artistas apareceram em pelo menos duas exposições recentes. Na "Panorama", no Museu de Arte Moderna, em São Paulo, e na "Amanhã, hoje", promovida pela Galeria Casa Triângulo com a Fundação Armando Álvares Penteado.
Um dos novos artistas deste grupo, Valdirlei Dias Nunes, 26, produziu e vendeu cerca de 30 obras no último ano a preços entre R$ 1.000 e R$ 1.400. Há cinco anos, seus trabalhos valiam menos de R$ 300.
Os compradores geralmente são colecionadores ou gente do ramo que mira em alguns artistas e vai comprando obras.
"É como cevar peixes. Acompanho o trabalho de alguns jovens e compro uma ou duas obras por mês. Pode dar zebra, mas a valorização de alguns trabalhos pode surpreender em menos de dois anos", diz Regina Boni, sócia da Galeria São Paulo.
O médico e colecionar particular Marcelo Secaf, 41, também age assim, do mesmo modo que fazia há mais de dez anos.
Nos anos 80, Secaf comprava obras de artistas então desconhecidos como Leonilson (morto de Aids em 93 e que terá uma mostra no Moma de Nova York em janeiro) que valorizaram tremendamente nos últimos anos.
"Alguns jovens de hoje podem ser Portinaris daqui a 20 ou 30 anos", diz Secaf, que tem espalhada em sua casa e de parentes uma coleção de mais de 50 obras.
O advogado Paulo Bourroul é outro que segue a linha, com uma coleção de pinturas e esculturas de mais de 200 obras. "Procuro sempre o pessoal emergente", diz.
Uma das artistas preferidas de Bourroul é Marcia Thompson, 26, de quem adquiriu obras há algum tempo.
Durante este ano, Marcia Thompson, que mescla pintura e escultura em seus trabalhos, fez dez exposições no Rio e vendeu algumas obras a preços que já alcançam R$ 2.000.
"O trabalho tem dado muito retorno", afirma a artista.
Ivo Mesquita, curador da exposição no MAM que reuniu alguns desses jovens artistas, diz que é cedo para prever "quem vai ficar". "Sempre há o risco de alguém promissor desaparecer no meio do caminho."
Galerias mais especializadas "elegem" alguns desses artistas promissores e cuidam para que o trabalho, e a exposição das obras, tenha constância.
A Camargo Vilaça, de São Paulo, faz, por exemplo, quase 20 exposições por ano e leva artistas com quem tem exclusividade (25 atualmente) a uma dezena de eventos internacionais. Ricardo Trevisan, da Galeria Casa Triângulo, diz que o segredo é "peneirar ao máximo para encontrar os que resistirão ao tempo".

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