São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crescimento preocupa comunidade judaica

ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

O aparecimento das comunidades judaico-messiânicas em São Paulo começa a preocupar os líderes da comunidade judaica.
O rabino Henry I. Sobel, 51, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista, diz temer um crescimento do movimento brasileiro semelhante ao ocorrido nos EUA e na Europa.
"O perigo sempre existe se não ficarmos atentos. Eles podem crescer, principalmente em épocas de crise emocional", diz.
No Brasil, ainda são poucas as comunidades que pregam o judaísmo messiânico. Nos EUA, onde o movimento já tem quase quatro décadas, já são cerca de 200 as comunidades, que chegam a reunir 20 mil adeptos.
"Nenhuma religião é melhor ou pior, mas as diferenças devem ser mantidas. A mistura, como pregam os judeus messiânicos, não é um verdadeiro cristianismo nem um verdadeiro judaísmo, é um coquetel sem nenhum fundamento religioso", dispara Sobel.
Para ele, o crescimento destas comunidades é resultado de alguma falha dentro da própria comunidade judaica. "Essas pessoas procuram nestas igrejas algo que não encontram na sinagoga, mas ainda não sei qual é a nossa falha", diz.
Sobel diz que começou a ficar preocupado quando, no final do ano passado, um grupo de judeus messiânicos começou a distribuir panfletos em frente à sua sinagoga, na rua Antônio Carlos (Consolação, centro de SP).
Em resposta, ele enviou uma carta às cerca de 2.000 famílias associadas à CIP para alertar contra a ação destas seitas.
No início do ano, a Fisesp (Federação Israelita Paulista) distribuiu outras 40 mil cartas, assinadas pelo escritor Ben Abraham, diretor da Associação dos Sobreviventes do Holocausto.
A carta, intitulada 'O holocausto espiritual', afirmava: "Nós, judeus, nunca impusemos a nossa fé a outras nações. Inclusive, conforme nossas leis, dificultamos a conversão. Portanto, a atitude de alguns grupos evangélicos e presbiterianos me revolta."
"Minha preocupação como rabino é que são poucos os judeus que conhecem estes movimentos. Eles vêm de fora e invadem a comunidade judaica, induzindo judeus a participarem com eles", diz Sobel.
"As igrejas messiânicas usam métodos criativos para atrair os judeus para o cristianismo, utilizam-se de uma linguagem aparentemente pró-judaica e pró-Israel, utilizando-se de métodos de lavagem cerebral, que não são meios éticos", afirma o rabino.
Para ele, os judaísmo messiânico agride tanto os judeus quanto os cristãos. "Isso é um absurdo, é querer ficar em cima do muro. Como pode-se confessar concomitantemente a fé judaica e a fé cristã?", pergunta.
"O sincretismo religioso é artificial, e eu não creio em misturas artificiais. Queremos cada um na sua, com suas crenças e suas particularidades", encerra o rabino.

Texto Anterior: Judeus adotam Jesus e comemoram Natal
Próximo Texto: Idéia surgiu há um século
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.