São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995
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Ainda as universidades

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Ontem falei dos gastos de nossas universidades públicas. Disse muito, mas não falei tudo. Há mais, muito mais. Direi duas palavras sobre o tema.
O brasileiro cultiva uma ilusão. Costuma enxergar o campus universitário como um terreno imaculado. Uma área isenta da bandalheira que costuma consumir as entranhas de qualquer organismo público.
Pois o governo, preocupado com a frouxidão que caracterizava a execução do orçamento da academia, resolveu fazer uma auditoria nas contas de 41 instituições federais de ensino. Descobriu-se que são repartições públicas como tantas outras, cujos escaninhos estão repletos de procedimentos irregulares.
São desvios de arrepiar. Imagine o leitor que há casos de universidades que pagam a seus funcionários um certo "adicional de assiduidade". Isso mesmo. Se o funcionário cumprir sua obrigação, se chegar na hora, recebe um salário mais gordo.
Há na folha de pagamento de nossas universidades 132 professores que recebem salários superiores ao do presidente da República. Um desrespeito à Constituição. Há quem ganhe mais de R$ 20 mil mensais.
A lei faculta às universidades a contratação de professores substitutos, por períodos de 12 meses. O número de vagas do gênero não pode exceder a cem. Há universidades com mais de 200 professores temporários.
A investigação foi feita por funcionários das pastas da Educação, da Fazenda e da Administração. Há um alentado relatório a respeito. Porém, armou-se em torno do documento uma estranha malha de proteção.
Há três meses tento, sem sucesso, obter cópia da papelada. Recorri a três ministros e a quatro funcionários de escalão inferior. Como que empenhados em proteger as universidades, todos evitam expor as irregularidades.
Assim, sabe-se que o dinheiro das universidades, como todo ervanário público, sai do bolso do contribuinte. Sabe-se também que, em sua trajetória cega, faz escala nos cofres do Tesouro. Mas não se sabe ao certo qual tem sido o destino final da viagem.
Parece essencial que o governo permita a entrada de luz e ar fresco também nos porões das universidades.

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