São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 1995
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Visconti filma mal-estar da sofisticação

CÁSSIO STARLING CARLOS
DA REDAÇÃO

A versão que a Globo chegou a exibir nos anos 70, além de mutilada pelos produtores em cerca de uma hora, sofreu cortes profundos da censura, incomodada com as cenas em que Ludwig 2º (1845-1886) busca refúgio junto aos braços fortes da criadagem.
Esta versão que a Record começa a exibir hoje traz na íntegra as quase cinco horas filmadas pelo italiano em 72 e restauradas por seus assistentes após sua morte.
"Ludwig" acabou se transformando no mais turbulento trabalho de Visconti. Para reconstituir a tragédia do jovem rei, o diretor reuniu uma trupe de atores de seu círculo habitual (Helmut Berger, Romy Schneider e Silvana Mangano à frente), 12 milhões de marcos alemães e partiu para locações nos castelos que Ludwig mandou construir na Baviera.
Em meio às dificuldades de produção e às brigas com o elenco, Visconti sofreu um infarto que provocou a redução de sua produtividade nos anos seguintes.
Mesmo com tantos problemas, a ambiguidade do olhar do nobre e marxista Visconti frente aos seres decadentes ainda é o ponto forte de "Ludwig". Não há complacência neste olhar, mas também não há condenações históricas, como as de "Os Deuses Malditos".
No fundo o que salta à vista neste longuíssimo drama é a paixão comum pelas formas estéticas em processo de extinção. Pela ópera, por Ludwig e pelo cinema que eleva os detalhes a uma dimensão inaudita, por Visconti. Já que o ritmo lento aqui é a obediência à regra da contemplação, resta ao espectador, se interessado, não resistir.

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