São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 1995
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Dúvidas amazônicas

Pelo que se apurou, os governadores de cinco dos principais Estados do país saíram do almoço de anteontem com o presidente Fernando Henrique Cardoso convencidos de que o Sivam deve ser mantido tal como está. Propõem-se até a colaborar para que o Senado aprove o financiamento externo, no valor de US$ 1,4 bilhão, indispensável para a execução do projeto.
Trata-se, em primeiro lugar, de um desafio aos senadores, já que os Executivos estaduais usarão sua influência sobre as respectivas bancadas em favor do Sivam.
Como iniciativa política, é legítima. O governo tem todo o direito de recrutar seus aliados para defender um projeto de seu interesse.
É mais problemático, entretanto, o fato de que o presidente não usou um único argumento novo para convencer os governadores. Limitou-se a repetir o óbvio, ou seja, que a Amazônia é uma área importante para o país e que é preciso controlar o tráfego aéreo na região (tanto o legal, como o ilegal) e a devastação ambiental.
Os governadores, de sua parte, concordaram com o presidente sem que tenha havido qualquer discussão mais aprofundada sobre a real prioridade do Sivam, um projeto caríssimo para uma nação carregada de carências sociais.
Tampouco se está levando em conta o fato de que a vigilância, tanto ambiental quanto policial, torna-se inócua se o governo não dispõe de pessoal para reprimir atividades ilegais ou predatórias eventualmente detectadas pelo Sivam, como, aliás, já ocorre hoje.
A falta de argumentos novos conduz a dois tipos de indagações. Em primeiro lugar, por que o presidente insiste em um projeto cercado de tantas dúvidas sobre sua prioridade, de um lado, e de suspeitas de irregularidades, do outro?
Como não há dúvidas quanto à honorabilidade de FHC, só se pode especular sobre o temor de eventuais prejuízos para as relações com os Estados Unidos. Isso parece injustificado, dado que o relacionamento entre os dois países tem, como é óbvio, dimensões muito superiores às de um projeto isolado.
Cabe ainda indagar com que tipo de concessão o governo federal acenou aos governadores para que eles subitamente passassem de mudos totais sobre o Sivam a seus defensores. Enfim, qual o "trade off".

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