São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 1995
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O déficit continua

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - A equipe econômica já admite, reservadamente, que não acabará com o déficit no setor público em 96. A meta, agora, é pelo menos reverter a tendência, reduzindo o tamanho do rombo.
Antes, o governo acreditava que equilibraria as contas públicas no próximo ano. O fracasso na votação das reformas previdenciária e administrativa e o descontrole geral das finanças estaduais alteraram a rota original.
Auxiliado pela inflação alta, o setor público tinha conseguido registrar um superávit de R$ 7 bilhões em 94. Os donos do cofre seguravam os pagamentos, liberando o cheque apenas no final do ano, depois que a inflação já havia engolido uma parte do valor.
Este ano, porém, o rombo nas contas públicas está de volta. Os gastos públicos -governos federal, estadual e municipal, além de estatais- vão superar as receitas em mais de R$ 30 bilhões em 95.
Além da inflação baixa, que acabou com o milagre do pagamento atrasado, o estouro na folha de pagamento e os juros altos contribuíram para desequilibrar o orçamento público.
A volta do buraco nas contas públicas é uma ameaça ao Plano Real. Para quem acredita que essa é uma avaliação catastrofista, é bom recordar declarações de um dos pais do Real, o economista Edmar Bacha.
Antes de seu lançamento, Bacha definia o controle dos gastos públicos como essencial para o sucesso definitivo do plano. "O nosso compromisso é com o déficit zero. Olha lá que preço você vai fixar, porque não vai haver déficit para financiar o seu aumento."
Como o equilíbrio das contas públicas não veio, e não virá tão cedo, o governo FHC continuará se valendo do câmbio desvalorizado e dos juros altos para manter a inflação sob controle. O custo, mais uma vez, será um crescimento acanhado para as necessidades do país.
A manutenção dessa política econômica vai acirrar também uma disputa que já criou problemas para FHC neste ano. De um lado, Pedro Malan (Fazenda), defensor do modelo atual. De outro, José Serra (Planejamento), crítico dos juros altos e do câmbio desvalorizado.
Em 95, venceu Malan. Em 96, o embate pode provocar até mudanças ministeriais.

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