São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995
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O mundo é da seleção

JUCA KFOURI

Justiça seja feita, o técnico Carlos Alberto Parreira anunciava para quem quisesse ouvir antes da Copa dos Estados Unidos. "Vamos jogar só para ganhar. E vamos ganhar, não importa se jogando feio ou bonito. Depois, livres da obrigação, nossos jogadores poderão mostrar o futebol que o mundo gosta."
Assim foi feito. O Brasil conquistou o tetra sob uma tempestade de críticas e Parreira nem ficou por aqui para ver se a segunda parte de sua promessa seria cumprida. Pois foi.
E quem a pagou?
O pragmático Zagallo. Com ele a seleção teve momentos deslumbrantes em 1995, apesar de todas as dificuldades para reunir o que havia de melhor.
Montou um belo time de garotos, ganhou da Inglaterra no santuário de Wembley, calou o Monumental de Nuñez da sempre difícil Argentina e só não levou a Copa América porque estava preparada para os uruguaios donos da casa.
Acabou o ano como a melhor seleção do planeta, segundo os critérios da Fifa.
Zagallo colhe o que ajudou Parreira a plantar. E colhe preocupado em jogar bem, em fazer gols, em inovar.
Bicampeão mundial como jogador que parecia destinado a ser reserva de Pepe, tri como técnico herdeiro de João Saldanha e tetra como braço direito de Parreira, por mais que não se goste dele, algum mérito Zagallo há de ter.
Pepe era melhor que ele? Era.
Saldanha deixou o tri mastigado para ele? Deixou.
Quem mandava mesmo no time do tetra era Parreira? Era. E daí?
Daí que Zagallo ganhou a posição de Pepe e jogou muito nas duas Copas que ajudou a ganhar.
Daí que Zagallo não atrapalhou o espírito que Saldanha legou e, segundo testemunhos como os de Pelé, Tostão, Gérson e Rivellino, fez bem mais que apenas continuar o que estava em andamento -o que, cá entre nós, já seria elogiável.
Daí que por mais que tenha sido apenas um auxiliar de Parreira, pergunte ao próprio qual foi a importância dele em toda a trajetória. Ouvirá como resposta que Zagallo foi fundamental.
Crítico sempre ácido de seus métodos e visão de futebol, fico à vontade para dar a mão à palmatória e reconhecer seus méritos. Mais: para saudar sua capacidade de ousar aos 64 anos de idade.
Na verdade, Zagallo é tão conservador como Nélson Rodrigues, um revolucionário.

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