São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995
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Com a corda toda

As informações preliminares divulgadas pela Federação do Comércio são eloquentes: as vendas no varejo estão sofrendo uma redução da ordem de 14% em dezembro. Redução calculada em valores reais, sublinhe-se. A mesma entidade informa ainda que houve pequeno aumento no volume de vendas, de 3% em relação a dezembro de 1994. A Associação Comercial complementa o quadro alertando para o fato de que o aumento no número de consultas no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) resulta sobretudo da maior cautela dos varejistas e não de um movimento de vendas efetivamente superior.
O Natal de 1995, enfim, foi discreto. Parece, assim, claro que o governo exagerou na dose da contração econômica. Juros mais baixos e compulsórios menos abrangentes talvez fossem suficientes para garantir resultados igualmente razoáveis em termos de inflação baixa e correção de desequilíbrios, seja nas contas externas, seja no financiamento do setor público.
Mas não se trata apenas de constatar que a contração foi excessiva. Preocupa mais o fato de que, sem a convicção de que a fase mais dura do ajuste já passou, as vítimas sob os escombros são em número grande e, provavelmente, crescente.
A cada semana são divulgadas novas levas de demissões em diversos setores. E os problemas de inadimplência que afetaram a indústria, o comércio e os bancos estão ainda longe de resolvidos.
A gravidade do arrocho é acentuada pelo fato de que itens importantes na cesta de consumo da classe média, como mensalidades escolares, serviços e alimentação fora do domicílio pressionaram os orçamentos familiares. O desemprego crescente também afeta as decisões dos que ainda estão empregados.
Impõe-se a conclusão de que ainda que o pior possivelmente já tenha passado, ainda há muito sofrimento pela frente, apesar das tímidas medidas de relaxamento tomadas pelo Banco Central. O ciclo de crédito parece funcionar como uma corda: os instrumentos do BC são fortes na hora do aperto, mas têm eficácia duvidosa quando usados com parcimônia exagerada para recolocar a economia na rota do crescimento. O consumidor, o comércio e a indústria chegam ao fim de 1995 com a corda toda... muito próxima dos respectivos pescoços.

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