São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 1995
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Ministro prioriza 'segurança' do processo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro-interino do Planejamento, Andrea Calabi, considera que o governo priorizou a "segurança" do programa de privatização. "Eu me assustaria mais com uma privatização malfeita que com uma privatização lenta, mesmo que alguma expectativa se frustre", diz. José Serra está em viagem de fim de ano.
Mesmo assim, ele disse que "houve uma frustração em 1995" com o valor arrecadado pelo governo com a privatização.
Calabi informou que o governo esperava arrecadar R$ 2,3 bilhões, mas fechou o ano arrecadando US$ 1,004 bilhão (ou R$ 975,88 milhões pelo câmbio comercial de ontem) -de acordo com dados confirmados por sua assessoria.
Em documentos do Planejamento, afirma Calabi, aparece a previsão de arrecadar US$ 2,3 bilhões em 95 -e não os US$ 4 bilhões anunciados por Serra no dia 5 de abril em Jerusalém.
"Deve ter havido alguma mudança de avaliação no valor das empresas", avalia o interino.
A diferença entre a expectativa de arrecadação e o valor final apurado se explica, segundo ele, porque três empresas ficaram para serem privatizadas em 1996.
O adiamento da privatização da Light, RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) e Banco Meridional reduziu a arrecadação prevista.
"O governo optou pela clareza em vez da rapidez. A opção pela segurança é preferível", afirmou.
Segundo Calabi, a privatização do setor elétrico, que o governo iniciou esse ano, demorou 7 anos para ser concluída na Inglaterra, 12 anos no Chile e 4 na Argentina. A do setor ferroviário, 11 anos no Japão e nos EUA.
Para ele, a disposição de privatizar 17 empresas em 95, anunciada em abril, não era uma meta, mas um "programa de trabalho".
Segundo Calabi, as previsões iniciais de arrecadação com a venda da Light não passavam de R$ 1 bilhão. Depois da divisão da empresa em duas, uma "boa para ser vendida e outra "ruim, que fica com o governo, o preço mínimo chegou a R$ 3,5 bilhões. O leilão da estatal está marcado para março de 96.
No caso da RFFSA, a venda de um dos trechos privatizáveis, o Bauru (SP)-Corumbá (MT), também está marcado para março.
O processo de venda precisa esperar a definição de questões como a política de tarifas.
A venda do Banco Meridional foi adiada para que fossem avaliadas as vantagens oferecidas pelo programa de incentivo às fusões bancárias criado em novembro último.
Poliderivados e Polipropileno estão com leilões marcados para janeiro. A Polibrasil deverá ser leiloada cem dias após a Polipropileno. A Metanor não será mais vendida a pedido da Petrobrás.
A venda da Estireno do Nordeste está sendo questionada pelo TCU (Tribunal de Contas da União). A Deten, leiloada em dezembro, não atraiu compradores e poderá ser oferecida aos demais acionistas.
Calabi disse que o governo está hoje menos preocupado com a arrecadação. O mais importante, segundo ele, é que vai se liberar alguns setores para que a iniciativa privada possa fazer investimentos.
O processo de privatização agora passa por uma mudança qualitativa porque vai se privatizar empresas que produzem bens públicos, afirmou o presidente do Banco Central, Gustavo Loyola.
"É natural que haja uma parada para termos fôlego", disse Loyola. Segundo ele, esse é um processo mais demorado e que envolve mais discussões. Ele e Calabi evitaram comentar as críticas do PFL ao programa de privatização.

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