São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 1995
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Fracassam as comemorações na França

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

Quarenta cineastas, cerca de 200 espectadores. É o balanço do evento que encerrou na quinta-feira, em Paris, a comemoração do centenário da primeira exibição pública de filmes dos irmãos Lumière, também na capital francesa.
O público minguado assistia num telão à exibição de minifilmes rodados por cineastas do mundo inteiro com a câmera original dos Lumière. Na praça do Trocadero, diante da torre Eiffel, os espectadores também podiam ver filmes dos inventores do cinema.
Se faltou gente na praça, sobraram críticas para o ano do cinema na França, evento um tanto ignorado pela mídia. Nenhum dos grandes jornais noticiou o telão.
A revista especializada "Studio" colocou os filmes dedicados ao centenário entre os "flops" (fracassos) do ano. Não foram vistos por mais de 25 mil espectadores cada, o equivalente ao público de um dia e meio de "Pocahontas".
Teria faltado também um "acontecimento notável" para marcar o "último ano do primeiro século do cinema". "O que vocês queriam? Uma passeata de diretores nos Champs-Elysées?", respondeu às críticas o cineasta Bertrand Tavernier, diretor do Instituto Lumière de Lyon.
Falando a uma rádio, Tavernier disse que "notável seria legendarem em inglês 200 filmes franceses e os passearem pelo mundo". Como não o fizeram, lembra que pelo menos 45 cineastas importantes e outras 100 mil pessoas viram exposições sobre os Lumière e filmes dos irmãos no museu do cinema de Lyon.
O telão montado no Trocadero retomou uma idéia dos Lumière. Os irmãos queriam mostrar sua invenção numa tela gigante na Exposição Universal de Paris, em 1900, mas não tinham os meios técnicos.
A tela inflável de 30 metros de largura foi montada pelo governo francês, ao lado do Museu do Cinema. O governo também pagou castanhas torradas e vinho quente (a temperatura era de um grau abaixo de zero). "É a República que paga" dizia o pessoal do serviço da castanha na chapa.
Representado a República, o ministro da Cultura, Philippe Douste-Blazy, inaugurou a festa, cortando uma fita de cinema às 17h. Até 0h podiam ser vistos filmes de Wim Wenders, Peter Greenaway, John Boorman e James Ivory entre outros 40. O telão fica na praça até dia 1º de janeiro.
Com a câmera de madeira dos Lumière, os diretores podiam rodar em no máximo 52 segundos um único plano, sem montagem, sem som sincronizado.
Spike Lee filmou a filha de nove meses. Fora da cena, ele dizia: "Say dada" ("Diz papá"). A criança olhou a câmera durante 52 segundos e resmungou um "baahhh" no final. Lee foi o mais aplaudido.
Em outra homenagem, no mesmo endereço onde foi inventada a ida ao cinema, foram passados os mesmos filmes que os Lumière exibiram no dia 28 de dezembro de 1895.
No mesmo endereço, não no mesmo lugar. Onde ficava o Grand Café, que sediou a primeira sessão, estão hoje um banco e um hotel. O preço de face do ingresso foi o mesmo: um franco. Em 1895, um franco comprava vinte exemplares de jornal (que custa hoje seis francos em média).

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