São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995 |
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Entra ano, sai ano
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Para a Polícia Federal vai o "Dedé" de ouro, em memória dos Trapalhões. O ex-futuro embaixador no México, Júlio Cesar, fica com o "Jantarzinho" de bronze, pela boca que perdeu e pela que foi apanhada na botija. Para Edinho e Luís Eduardo Magalhães vai o "Papai Até Que Gostou", pelas bolas rebatidas. Para Adriane Galisteu, o "Sensor" de bronze, pela notável sensibilidade grega. Para o prefeito Paulo Maluf, o "Tatu" de ouro, obviamente pelos buracos e túneis que cavou -ficando o "Tatuzinho" de prata para o governador Marcello Alencar, não sei bem por que. Para Cesar Maia vai, merecidamente, o "Napoleon Solo" de diamante, por sua performance individual, que foi, convenhamos, uma loucura. Finalmente, para FHC, vai o "Hello, Goodbye" de platina, já que governar parece ser mesmo uma viagem. - "Foi bom para você também?" - "Prefiro com orgasmo." O diálogo, de um antigo cartum do Glauco, resume o que foram esses 12 meses de "processo" com FHC e sua equipe no comando. Um ano economicista, voltado para a manutenção, a todo custo, das baixas taxas de inflação. Preços parisienses, juros marcianos, câmbio no cabresto, salários desindexados e em queda. A euforia do crescimento e o clima de "mamãe, olha eu aqui no Primeiro Mundo" já foram devidamente aplainados pela realidade. O Brasil vai mudando para melhor, mas há muito o que fazer. E a maior dívida do governo foi com a área social. Que possa começar a ser saldada em 96. É o que desejam milhões de corações -e estômagos- brasileiros. E a oposição em 95? Um sonoro fracasso. Acabou sendo exercida por alguns movimentos. O mais estridente, o dos sem-terra. Reivindicação elementar, a reforma agrária ainda parece estar limitada à idéia de distribuição de lotes e "assentamentos". O que já é alguma coisa num país onde, sejamos sinceros, fazendeiros acreditam que são a lei. Mas é muito pouco, quando se pensa na perspectiva de uma política mais abrangente e racional para o desenvolvimento do campo. A Internet foi a onda do ano, mas se alguma coisa fora do mundo político e econômico movimentou o país foi a tal "guerra santa" travada entre Edir Macedo e Roberto Marinho, Record e Globo, Igreja Católica e Universal. Chutes para lá e para cá. Tudo bem, o bispo não parece ser flor que se cheire. Mas o jornalismo da Rede Globo -para quem viveu na época do regime militar, acompanhou o Proconsult e viu a montagem do debate Lula versus Collor- não é exatamente exemplar. E o seguinte: poucas coisas podem ser mais hipócritas do que o ar oficialesco de horror diante de indícios, na igreja de Macedo, de caixa dois e remessa de dólares para o exterior. Duas instituições nacionais. Ou não? Texto Anterior: Deputado 'gazeteiro' abandona o mandato Próximo Texto: OEA reconhece avanços com governo FHC Índice |
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