São Paulo, quinta-feira, 2 de fevereiro de 1995
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Caí da cama

CARLOS SARLI

Acordar no meio da noite, com raras exceções, é um pesadelo. Para mim, um dos motivos que foge à regra é cair da cama para cair na estrada. Dependendo do destino e do motivo da viagem, até o infernal despertador soa agradável.
Na segunda-feira da semana passada, o telefone buzinou na minha orelha às 4h30 da manhã. Era da recepção do hotel onde eu estava hospedado em Recife, atendendo à minha solicitação. Acordei amarradão. Mala pronta, 5h30 estava no aeroporto internacional dos Guararapes para pegar o bimotor com destino a Fernando de Noronha. Sonho antigo, não via a hora de pousar no arquipélago.
Durante os três dias que fiquei na Ilha a fim de acompanhar o Op Pro Cannon, dividi a hospedagem na Pousada do Atlântico, dos irmãos Taquinho e Tacinho (campeões), com três dos melhores surfistas do mundo.
A curta convivência me mostrou que, apesar das diferenças de personalidade, as viagens comuns durante as competições, que ocupam 12 meses por ano, os aproximaram e criaram laços fortes de amizade.
O paulista assumido, carioca de nascimento, Renan Rocha, 23, 22º do ranking mundial de 94, é urbano por excelência. A todo instante deixa escapar a saudade do conforto de sua casa, de um bom restaurante japonês e de sua gata, a modelo Ludmila, que nem sempre pode acompanhá-lo.
O paraibano Fábio Gouveia, 25, 12Oº melhor surfista no ano passado, é pai de dois capetinhas que, às vezes, merecem uns safanões, como ele mesmo diz. Caseiro, preferiu ficar na pousada e ligar para esposa e filhos em Recife, onde moram atualmente, a ir à festa da entrega de prêmios do campeonato. Ídolo nacional, no nordeste é rei, embora seu jeito simples e humilde não demonstre.
O baiano Jojó de Olivença, 27, foi o segundo melhor brasileiro no Mundial de 94, na 11ª colocação, só atrás de Teco Padaratz (9º). No seu primeiro ano de WCT foi o atleta que mais evoluiu na temporada —rookie of the year.
Iluminado, atribui muito de seu sucesso a sua crença em Deus e Jesus. Seu astral tranquilo só some quando se sente passado para trás. Aí roda a baiana e acaba tendo que engolir as citações da Bíblia, que seus amigos, acostumados a ouvir, lhe devolvem de pagação.
Combinamos de acordar cedo no dia seguinte, último dia de espera do campeonato, para pegar onda. Mas aí é outra história...

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