São Paulo, quinta-feira, 2 de fevereiro de 1995
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Guarnieri volta ao palco por pura diversão

ELVIS CESAR BONASSA
DA REDAÇÃO

"Não é uma crítica, não tem um dedo em riste apontando para nada." Assim Gianfrancesco Guarnieri define sua nova peça, "A Canastra de Macário", que estréia amanhã em São Paulo. Vinda do autor de "Eles Não Usam Black-tie", identificado sempre com engajamento, a frase soa provocativa —mas é verdadeira.
"Escrever essa peça foi uma grande diversão. Pela primeira vez, escrevi um personagem diretamente para mim, com todas as situações que eu sempre gostei de representar no palco", disse Guarnieri, na última quarta-feira, tomando cerveja ao lado do diretor do espetáculo, José de Anchieta.
O personagem dos sonhos de Guarnieri é o Macário do título, um velho ator mambembe enganado pelo empresário Orestes. Ele contrata Macário para representar, em uma peça teatral, o personagem de um milagreiro.
Só que não existe peça nenhuma: Orestes vai à cidade de Cova D'Oeste (ex-Fura Tripa e Tiro Certo) e diz que Macário é mesmo um santo. Com isso, consegue muitas doações para supostas obras de caridade.
O ator só percebe o golpe quando, dias depois, bêbado, chega à Cova D'Oeste e é recebido como um milagreiro de verdade. Orestes foge com o dinheiro e deixa Macário e sua canastra entregues ao ânimo nada amistoso dos moradores.
A trama envolve então o padre Zapata, a menina paranormal Zezinha e o violeiro cego Coriolano. Há ainda a bailarina Ismênia, antiga paixão malograda do ator, que aparece em suas lembranças.
São tipos antigos em teatro mambembe, mas Guarnieri diz que o objetivo é esse mesmo. "Quis fazer uma homenagem."
Homenagem aos seus próprios tempos no Teatro de Arena, homenagem a atores como Procópio Ferreira, Sadi Cabral e Jaime Costa. Homenagem, mais uma vez, ao teatro como pura diversão, meio circense.
O que não significa que a peça flutue nas nuvens. A ânsia de Cova D'Oeste por milagres remete logo para a proliferação de religiões milagreiras na TV e em grandes templos.
"É uma religião sem nada de espiritual, que promete coisas materiais, dinheiro, saúde", diz Guarnieri. "É um apelo às soluções mágicas, fora da realidade."
Um "apelo ao irreal" que, observa Guarnieri, está alcançando os próprios teatros. "O Teatro Bandeirantes e o Olympia foram vendidos para uma igreja. A Ruth Escobar também tem um proposta milionária para vender o seu."
A peça foi escrita entre outubro e novembro do ano passado. Havia inicialmente a idéia de um espetáculo com Egberto Gismonti. Não deu certo. Depois, Guarnieri pensou em uma história de "serial killer" —também abandonada.
Finalmente, surgiu o Macário. A peça foi escrita pensando no grupo teatral que acompanha Guarnieri —o filho Cacau (Zapata) e a filha Mariana (Zezinha), os atores Renata Carneiro (Ismênia) e Marcelo Góes (Orestes).
Faltava apenas o violeiro. O diretor José de Anchieta chamou o violeiro Adauto Santos para o papel —conhecido como autor da música "Triste Berrante", incluída na trilha sonora da novela "Pantanal", da Manchete.

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