São Paulo, quinta-feira, 2 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obras-primas de Macalé voltam em CD

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ainda nos anos 60 ele aderiu à missão de desafinar o coro dos contentes na MPB. Agora, com seus dois primeiros álbuns lançados em CD, Jards Macalé tem a chance de enterrar de vez sua absurda fama de "maldito".
Reeditados pelo selo Rock Company, "Jards Macalé" (de 1972) e "Aprender a Nadar" (de 1974) são itens essenciais em qualquer lista de discos que representam a melhor música brasileira produzida nos anos 70.
Irreverente, provocador, debochado até, Macalé uniu sua forte personalidade musical à tradição de mestres como Geraldo Pereira, Moreira da Silva, Lupicínio Rodrigues e Nelson Cavaquinho.
Porém, desde que enfrentou com guitarras elétricas e desbunde visual as vaias do Festival Internacional da Canção de 69, Macalé foi rotulado "maldito". Um estigma que contribuiu para afastar sua música do grande público, mas que jamais serviu de motivo para que ele se afinasse com o gosto médio e a redundância.
Temporão como álbum de estréia de um músico que se profissionalizou em 1965, "Jards Macalé" marca o encontro desse carioca da Tijuca com três baianos (Capinan, Waly Salomão, Duda) e um piauiense (Torquato Neto). Os quatro, sem dúvida, estão entre seus melhores parceiros.
Em versos crus e violentos, toda a rebeldia do final dos anos 60 se mantinha ativa. "Se me der na veneta eu vou /Se me der na veneta eu mato /Se me der na veneta eu morro /E volto pra curtir", diz "Revendo Amigos".
A produção é quase doméstica. Simplicidade e descontração comandam o baixo e o violão de Lanny Gordin mais a bateria de Tuti Moreno, companhias perfeitas para a voz e o violão de Macalé. Os arranjos são despojados, facilitando as misturas de samba, blues, baião e rock.
Curiosamente, apesar de mais distante no tempo, o álbum "Aprender a Nadar" soa hoje mais próximo do projeto tropicalista. A começar da dedicatória a Hélio Oiticica e Ligia Clark.
Além de toques experimentais, alguns arranjos trazem cordas e sopros. O repertório é variado: inclui sambas ("Imagens", "Orora Analfabeta"), bolero ("Senhor dos Sábados") e até ritmos cubano ("Mambo da Cantareira").
Parceiro de Macalé em cinco composições, Waly Salomão (que ainda assinava Wally Sailormoon) batizou como "morbeza (união de morbidez e beleza) romântica" o estilo das canções da dupla.
Engavetado durante um mês na Censura Federal, antes de ser finalmente liberado, esse álbum trazia em seu título uma alfinetada no regime militar da época.
Ameaçado de ser atirado na baía de Guanabara, por policiais que invadiram sua casa, Macalé realizou a festa de lançamento do LP "Aprender a Nadar" em uma barca, na mesma baía. Não contente, ainda tirou a roupa e se jogou no mar. Mas por vontade própria.

Títulos: Jards Macalé e Aprender a Nadar
Autor: Jards Macalé
Lançamento: Rock Company
Formato: CD
Quanto: R$ 17 (em média)

Texto Anterior: Morre aos 107 dramaturgo George Abbott
Próximo Texto: Discografia já está quase completa nas lojas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.