São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Estado mantém de jegue a seguradoras

CARLOS MAGNO DE NARDI ; AMÉRICO MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Governo mantém de jegue a seguradoras
Entre as 64 empresas oficiais, contam-se também hotéis e loja de artesanato; maior parte delas dá prejuízo
CARLOS MAGNO DE NARDI
Depois de um mês no governo, Mário Covas ainda não definiu a política de privatizações e de cortes do patrimônio de um Estado que, apesar de uma dívida de US$ 58,3 bilhões, opera hotéis, faz seguros de vida, vende artesanato e até compra jegues.
Exemplos sobre o tamanho do Estado não faltam. Há casos que beiram o absurdo como um jumento comprado pelo gabinete do secretário de Agricultura para reprodução, embora ele se negue a "fazer coberturas", como relata um diligente relatório oficial (leia texto nesta página).

Gigante
No total, o Estado comanda um "gigante" com 64 órgãos, entre empresas de economia mista e autarquias. São cerca de 350 mil funcionários espalhados nas empresas e autarquias e terceirizados (contratados através de empresas de prestação de serviços).
O governo ainda não sabe o tamanho do Estado e qual é o valor de seu patrimônio. Para chegar a esses números, o governo Mário Covas pretende fazer uma espécie de censo patrimonial, ainda sem data marcada.
A coordenação do levantamento será feita pela Secretaria da Administração.
Sob o comando do Estado, negócios habitualmente muito rentáveis nas mãos da iniciativa privada são deficitários. É o caso da Cosesp (Companhia de Seguros do Estado de São Paulo).
Segundo dados da própria empresa, a Cosesp apresentou um prejuízo de US$ 8 milhões em 1993 e de US$ 4 milhões em 1994.
O atual presidente da empresa, João Leite Neto, atribui a diminuição do prejuízo a um programa de saneamento implantado no início de 94.
Balanço feito pela Susep (Superintendência de Seguros Privados), órgão do Ministério da Fazenda, no segundo semestre de 93 (último dado disponível) mostra a Cosesp como a 16ª empresa brasileira de seguros quanto ao patrimônio líquido, e 88ª (última colocada) na lista dos resultados operacionais.
A Cosep faz o seguro de todo o patrimônio do Estado, de produção rural e pessoais (acidentes, carros e até de "anéis de madame" como diz o presidente da empresa).
No setor rural, a Cosep acaba competindo com uma outra seguradora dentro do próprio Estado, a Baneseg (Banespa Seguros). Enquanto a Cosesp faz o seguro da produção, a companhia do banco segura a colheita.

Turismo
Outro setor do Estado deficitário é o hoteleiro. Embora tenha oito hotéis (em Águas de Lindóia, Cananéia, Amparo, Peruíbe, Socorro, Nuporanga, Bragança Paulista e São Bento do Sapucaí), o Estado gerencia apenas dois deles -os únicos que apresentam prejuízo, segundo a assessoria de imprensa do governador.
O resultado é que o Estado acaba subsidiando esses hotéis.
Os outros seis hotéis, arrendados para a Associação dos Funcionários Públicos do Estado e para prefeituras, conseguem se manter (empatam os gastos com sua arrecadação) ou dar lucro.
O argumento oficial até o fim do ano passado para a manutenção desses hotéis era a necessidade de se fomentar o turismo, não importando sua situação financeira.
Covas diz que pretende reverter esse quadro. Ele não descarta a possibilidade de vender esses imóveis.
Ainda no setor de turismo, o governo mantém a Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Artesanato
O Estado mantém uma autarquia voltada para o desenvolvimento do artesanato, a Sutaco (Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades). Com 10.300 artesãos cadastrados, essa autarquia comercializa artesanato em uma loja própria e em feiras.
Em 94, a Sutaco recebeu do governo estadual US$ 1,1 milhão através de verba prevista em orçamento. Além dessa verba, ela custeia suas atividades através de um porcentual por peça vendida.
Covas cita a Eletropaulo (que em 94 apresentou um déficit de US$ 700 milhões) para justificar o atraso na definição de uma política de privatizações.
"Não se pode privatizar agora empresas como a Eletropaulo, arrebentadas financeiramente", diz o governador. Esse processo só será discutido depois que houver um saneamento nas empresas.

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