São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Coletor criou dois aeroclubes mas não pilotava

ARMANDO ANTENORE
DO ENVIADO A JUIZ DE FORA

O coletor de impostos João dos Santos Coragem adorava televisão e tudo o que tinha ares de modernidade. Na década de 40, embora não soubesse pilotar aviões, fundou dois aeroclubes —um em Piumhi e outro em Dores do Indaiá.
"O gosto pelo pioneirismo o movia", diz o filho Ricardo Wagner. "Quando precisou de funcionários nos aeroclubes, desafiou a praxe da época e contratou um grupo de moças."
João Coragem também gostava de carros. Certa vez, adquiriu um Chevrolet 1937 e o pintou de amarelo. Foi um rebuliço. Quase todos os automóveis daquele tempo ostentavam a cor preta.
Depois que se aposentou, já morando em Juiz de Fora, resolveu instalar um alto-falante na porta de casa. Usava o aparelho para transmitir "informações de utilidade pública".
Divulgava, por exemplo, o horário dos ônibus que atendiam à vizinhança. Também fazia campanha em favor do cheque. Dizia: "Não ande com dinheiro no bolso. O dinheiro tem micróbios e traz doenças. Adote logo o talão de cheques."
O pioneirismo de João manifestou-se até no campo religioso. Contrariando a tradição católica dos Coragem, abraçou o espiritismo aos 17 anos.
Durante a década de 20, um de seus irmãos viajou para a França. Foi estudar medicina. Voltou garantindo que, na Europa, os homens tratavam as mulheres de maneira diferente.
"Lá o hímen não é certificado de honra", explicava.
Ao ouvir o relato, João ficou maravilhado. Guardou aquelas palavras e, quando teve filhos, passou a lhes ensinar a lição: "Na Europa, o hímen não é certificado de honra".
"O pai falava assim para mostrar à gente que o mundo ia muito além de Minas Gerais", lembra Ricardo Wagner.
(AA)

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