São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995 |
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Guerreiro era líder em quilombo
LUÍS EDUARDO LEAL
O quilombo contava, segundo alguns autores, com 25 mil integrantes ao tempo de Zumbi e baseava-se na exploração comum das terras, situadas na serra da Barriga, na capitania de Pernambuco. Há várias versões sobre a vida de Zumbi. Uma delas dá conta de que o líder negro teria sido criado por um padre em Portugal, recebido um nome cristão, Francisco, aprendido latim e retornado ao Brasil, onde viria a encarnar os ideais libertários dos africanos. Outra versão sustenta que Zumbi se insurgiu contra outro líder famoso dos Palmares, Ganga Zumba, e liderou a resistência do quilombo aos repetidos cercos dos capitães-do-mato paulistas. Há ainda uma corrente que defende a existência de vários Zumbis, não um só —o nome seria uma designação genérica para os líderes guerreiros dos quilombos. O mais aceito é que Zumbi de fato existiu e liderou a resistência aos invasores brancos, intensificada a partir dos últimos anos da década de 1670 —os historiadores situam o nascimento do guerreiro entre 1645 e 1655. A intensificação dos ataques aos quilombos, acreditam os historiadores, foi uma reação natural à expansão desses enclaves negros autônomos —vários autores consideram que os quilombos abrigavam também índios e alguns brancos pobres, especialmente mulheres. Na última dessas campanhas militares, liderada por Domingos Jorge Velho, em 1694, Zumbi e seus homens resistiram por 22 dias ao assédio, mas acabaram tendo que abandonar o quilombo, no atual Estado de Alagoas. No ano seguinte, Zumbi e seus guerreiros remanescentes foram localizados no interior de Alagoas, a partir de informação dada aos capitães-do-mato por um "mulato", ex-integrante dos Palmares. Zumbi foi apunhalado e decapitado —sua cabeça, exposta em lugar público de Recife. Mesmo com o "exemplo" providenciado pelas autoridades, os proprietários de terras conviveram com quilombos de negros livres até o século 19. A data da morte de Zumbi, 20 de novembro de 1695, é comemorada pelo movimento negro como Dia Nacional da Consciência Negra, uma espécie de contraponto ao 13 de maio de 1888 (abolição). Na opinião do movimento, o 13 de maio é apenas a celebração oficial do gesto de uma princesa branca, Isabel, que assinou uma lei sem criar reais condições de emancipação aos escravos. Texto Anterior: Festas em Salvador homenageiam Zumbi Próximo Texto: 'Dança do Jhaco' é o hit de 95 na Bahia Índice |
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