São Paulo, quarta-feira, 8 de fevereiro de 1995
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Prêmie da Espanha vai enfrentar hoje por prova de fogo

ELIZABETH NASH
DO "THE INDEPENDENT", EM MADRI

O primeiro-ministro espanhol, Felipe González, enfrenta hoje a sua mais dura provação desde que a crise política do mês passado —a mais grave dos últimos 12 anos— causou a queda da peseta e motivou especulações de que seu mandato estaria rapidamente se aproximando do fim.
Num debate parlamentar sobre a situação da nação, González terá que se defender de alegações de que teria encoberto as atividades dos esquadrões da morte anti-ETA (movimento separatista basco) na década de 80, de que seu governo está minado pela corrupção e de mau gerenciamento da economia.
O Partido Socialista de González e seus aliados têm maioria parlamentar garantida.
Mas a opinião pública está se voltando à oposição conservadora, o Partido Popular —que nas sondagens de opinião está nove ou dez pontos à frente dos socialistas—, e a previsão geral é que os socialistas sofrerão um massacre nas eleições locais e regionais de maio próximo.
O Partido Popular, cujo maior desejo é antecipar as eleições gerais, está registrando cerca de 30 moções para o debate de amanhã sobre o estado da nação, mas por enquanto a proposta de formação de um governo alternativo não faz parte delas.
Muitos observadores interpretam esse fato como sinal de fraqueza e falta de confiança da parte do dirigente conservador José Maria Aznar e dizem que é ele quem tem sido o grande perdedor nestas semanas de crise, e não o premiê.
Segundo os observadores, Aznar perdeu tempo fazendo a contagem de seus votos no Parlamento.
Além disso, teria flertado com a extrema esquerda, permitindo que escapasse a oportunidade de abrir comunicações com os poderosos líderes nacionalistas bascos e catalães, e deixado de conclamar para uma cruzada com o objetivo de expulsar os socialistas do poder.
Tudo isso poderia ter sido feito com o registro de uma moção de censura no Parlamento. Mesmo que a tivesse perdido, teria sido um desafio aos socialistas.
A maior problema que ameaça González ainda é o dos GAL, os esquadrões da morte anti-Eta responsáveis por mais de 20 mortes na década de 80.
O ex-secretário de Estado da Segurança Rafael Vera, na época o número dois do Ministério do Interior, foi interrogado na semana passada pelo juiz Baltazar Garzon.
Acredita-se que nos próximos dias Garzon vá pedir a prisão preventiva de Veras em conexão com a tentativa de acobertamento das operações dos GAL.
Veras não deverá delatar seus ex-superiores, mas à medida que o juiz Garzon o persegue com calma e determinação, a corda vai se apertando em torno do pescoço de Felipe González.

Tradução de Clara Allain

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