São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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"Cuervo" embala o sonho de revanche dos derrotados

Dirigentes da esquerda defendem 'modelo alternativo popular'

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi com indisfarçado contentamento que delegados de partidos políticos de esquerda de dez países latino-americanos —todos derrotados nas urnas— avaliaram a "bancarrota mexicana", em encontro realizado em São Paulo entre um e outro gole da tequila mexicana "Cuervo".
"O modelo neoliberal foi concebido pelo Primeiro Mundo, é bom para o Primeiro Mundo, não para países em desenvolvimento", diz Carlos Bariabar, da Frente Ampla (Uruguai).
"Não se trata de festejar a bancarrota mexicana, porque é o povo quem paga. Mas é divertido, diante da empáfia com que o modelo neoliberal foi colocado para o continente", afirma Marco Aurélio Garcia, secretário de relações internacionais do PT.
O mexicano Cuauhtémoc Sandoval, 44, do Partido da Revolução Democrática, lembra que seu país teve desvalorização da moeda em 70% em um piscar de olhos. "O governo FHC não deve seguir o nosso modelo. Estão aí os resultados. O déficit da balança comercial do México em 1994 foi de US$ 22 bilhões".
Sandoval também criticou o fluxo de capital estrangeiro "andorinha", que entra e sai via Bolsa de Valores. Para ele, a América Latina deve ainda negociar junto suas dívidas. "Os bancos internacionais são co-responsáveis pela crise", diz.
Os dirigentes da esquerda defendem o que chamam de "modelo alternativo popular", que passa pelo fortalecimento do mercado interno de seus países, evitando a "abertura unilateral de fronteiras" e as privatizações de setores estratégicos.
Eles acreditam também que o modelo clássico neoliberal de estabilização pode até gerar desenvolvimento econômico, mas não acarreta obrigatoriamente desenvolvimento social. E o México é usado como exemplo.
Para Bariabar, 53, porém, o neoliberalismo trouxe de positivo a disciplina nas contas públicas e o controle da inflação.
Ao encontro vieram, entre outros, a Frente Sandinista (Nicarágua), a Frente Farabundo Martí (El Salvador) e o PC de Cuba.
O Foro de São Paulo foi criado em 1990 e reúne cem partidos de esquerda da América Latina para intercâmbio. O 5º Foro, que teve reunião preparatória na quinta e na sexta, em São Paulo, será realizado de 25 a 28 de maio, em Montevidéu (Uruguai).

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