São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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Crise de estádio energiza torneio paulista

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Todo mundo sabe que esta primeira fase do campeonato (a mais longa, por sinal) não vale praticamente nada, pois os sete primeiros têm vaga garantida na hora do "vamovê". E, entre esses sete, certamente estarão os grandes, com uma outra surpresa, tipo XV de Piracicaba.
Contudo, rolaram situações nas primeiras rodadas que provocaram um estímulo extra ao torneio. O XV, que pega o Santos, esta tarde, em casa é um desses elementos estimulantes. Logo de saída, bateu o favoritíssimo Corinthians, passou pelo Araçatuba e enfiou uma goleada histórica na Ponte, em Campinas, saltando para o topo da tabela de classificação.
Desde os tempos de De Sordi, Gatão, Moreno e De Maria, nos longínquos anos 50, o XV não apresenta tais credenciais, embora tenha, nos 70, chegado a um vice-campeonato, sob o comando do folclórico presidente Rípoli.
Era uma figura de se ver: magro, espigado, terno cinza amarfanhado e uma peruca indisfarçável oscilando sobre a calva, Rípoli não falava, bramia. Sempre em defesa do seu XV. Quanto maior a platéia, mais ele carregava no sotaque.
O XV era Rípoli, como na frase de De Gaulle. Assim como o XV de hoje é o comandante Rolim, também nascido no interiorzão. Mas um caipira cosmopolita, viajado, não fosse dono de uma companhia de aviação. E que marcou logo de cara sua presença com a ousadia de levar para Piracicaba um titular do São Paulo, o volante Doriva. Fez um bem enorme para o XV e, sobretudo, para o São Paulo, pois a saída de Doriva propiciou a fixação de Axel na cabeça-de-área, onde ele joga por dois, o que permitiu a Muricy armar um time mais ofensivo. Resultado: XV e São Paulo dividem a liderança do campeonato, com nove pontos ganhos, três vitórias e médias altíssimas de gols.
Mas, atenção, o Santos vem de uma magnífica vitória sobre o América, com mais uma atuação deslumbrante de Giovani, um meia que vai dar muito o que falar. Logo, eis uma boa chance de sabermos se o XV é fogo de palha ou não.

Outro fator de interesse, por mais paradoxal que pareça, é a impossibilidade temporária de os clubes poderem se utilizar dos grandes estádios da capital. Isso provoca uma maior emulação da torcida, que se espalharia melancolicamente num Morumbi cinzento para ver, por exemplo, o clássico de hoje entre São Paulo e Portuguesa. Mas que se concentrará no Palestra Itália, energizando muito mais seu time, sobretudo se este for o energético tricolor de Muricy, um time que joga num sistema digital, rápido, preciso.
Assim como a volta do Corinthians à Fazendinha tem um halo de saudade com reflexos de modernidade. Ou, teria, se nossos cartolas fossem ágeis o bastante para refazerem o pacto com as tevês, permitindo a transmissão direta pelas redes convencionais.Por tudo isso, não me avexo diante do mega-evento, o Fla-Flu de Romário, num Maracanã pleno. Pelas beiradas, é que se toma o brodo, irmão.

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