São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
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Mudança radical é improvável

REINALDO AZEVEDO
EDITOR—ADJUNTO DE POLÍTICA

Na gestão de empresas, reengenharia compreende um questionamento radical e consequente mudança de todas as premissas com as quais se vinha trabalhando.
Quando FHC diz querer passar da "era Vargas para a da reengenharia", provavelmente está a indicar que o Estado vai abandonar alguns manifestações de atraso atribuídas aos dois governos de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954).
Entre essas manifestações, estão certamente o Estado paternalista e patrão, que, se legou uma legislação trabalhista, investiu pesadamente em infra-estrutura e alavancou o capital privado.
Problemas: a tal "reengenharia" é um conceito que tem sido aplicado na gestão privada, o que não demanda negociação política. Em geral, empresas privadas só devem satisfação a seus sócios e acionistas.
Estado não é empresa. Está submetido a uma malha constitucional que não é só produto da vontade dos "sócios". FHC corre o risco de não implantar a tal reengenharia e de ser injusto com Getúlio Vargas.
É o Estado patrimonialista, assaltado por grupos de pressão em benefício de seus interesses particulares, que tem infelicitado o Brasil e produzido tragédias como a de Teotônio Vilela, relatada anteontem pela Folha. Esse Estado antecede Getúlio e a ele sobreviveu.
Operar mudanças radicais tendo como aliados as forças que sustentam o Estado patrimonialista, ainda que revestido de verniz neoliberal, não se opera com reengenharia, mas com milagre.

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