São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 1995
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Tucano rejeita 'nhem-nhem-nhem' neoliberal

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No discurso que fez ontem em almoço que reuniu os sindicalistas no Restaurante da Escola Fazendária de Brasília, FHC repeliu com desdém o rótulo de neoliberal e disse que não há possibilidade de o Brasil repetir o México, numa alusão à crise cambial que afetou aquele país.
Segundo o presidente, quem o chama de neoliberal "age de má-fé e é bobo". FHC classificou de "nhem-nhem-nhem" a insistência em associá-lo ao neoliberalismo. "Nhem-nhem-nhem" é uma onomatopéia (palavra que procura imitar o som daquilo que se expressa) para traduzir conversa-fiada.
"O Brasil não tem nada a ver com a crise do México. A situação nossa é completamente diferente, a não ser para os de má-fé que ficam repetindo que sou neoliberal, neoliberal... Bom, paciência... Quem nasceu bobo morre bobo se não fizer uma boa escola. Então, vai repetir nhem-nhem-nhem, neoliberal, nhem-nhem-nhem, neoliberal", discursou FHC.
O presidente abandonou a onomatopéia e recorreu ao latim para expressar a sua contrariedade: "Tá bom, pode repetir 'ad nauseam', mas não é verdade", disse. "Ad nauseam" é uma expressão latina que significa "até enjoar", "até a náusea", "até a saciedade".

Sinceridade
FHC propôs aos líderes sindicais um "diálogo sincero" em torno da reforma constitucional. "Eu não sou um enganador", disse.
"Ou a gente fala com franqueza ou não se avança. Em matéria constitucional, ninguém pode presumir que tenha a verdade absoluta", afirmou. O almoço encerrou a reunião das centrais sindicais com os ministros ligados às reformas.
FHC voltou a criticar os "demagogos" ao justificar seu veto ao salário mínimo de R$ 100. Informou que, "dentro de poucos dias", o governo mandará ao Congresso propostas que permitirão "avanços" no caso do mínimo.
Segundo FHC, as emendas precisam ser negociadas com isenção. "Podemos estar errados aqui e ali. Se estamos errados, a gente muda. Agora, quem estiver errado tem de ter a mesma disposição de mudar", comentou.
"É fácil jogar para a platéia, mas não dá certo no médio prazo. Já vimos muito impostor se arrebentar nas urnas", prosseguiu o presidente, apressando-se em esclarecer que não se referia a nenhum dos seus adversários na eleição do ano passado.
Cerca de 40 lugares no restaurante ficaram vazios porque a delegação da CUT, que participara da reunião pela manhã com os ministros, preferiu não almoçar. O presidente da central, Vicente Paulo da Silva, alegou que os dirigentes tinham outro compromisso. Eles se reuniram na Câmara para discutir, entre outros assuntos, o fechamento de bancos estaduais.

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