São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 1995
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Woody escolhe a melancolia

Dianne Wiest e Mia Farrow em "Setembro", na Globo

INÁCIO ARAUJO

Da Redação Ninguém jamais pensou que Chaplin ou Buster Keaton fossem cineastas menores. Ou que as comédias de Leo McCarey, por exemplo, fossem inferiores a seus dramas. Antes pelo contrário.
O desprestígio da comédia é, portanto, uma chaga da modernidade. Como se a Segunda Guerra fosse o divisor de águas a partir da qual riso e conhecimento já não pudessem andar juntos.
Nada explica que um ator com os recursos de Jerry Lewis tenha sido considerado um mero careteiro, que seu investimento no "non sense" fosse assimilado com tanta frequência à infantilidade.
E talvez faça parte desse movimento de retração o fato de Woody Allen ter, a partir dos anos 70, optado por ser o Bergman de Manhattan. A mudança —estarrecedora, na época— deu-se com o soturno "Interiores" (1977). É desse movimento que faz parte "Setembro" (Globo, 0h).
Da ambientação (Nova Inglaterra) ao clima crepuscular (fim de verão), passando pelos problemas pessoais dos personagens (cirandas amorosas doloridas), Woody está longe das brilhantes críticas de costumes e dos diálogos mordazes de seus melhores trabalhos.
A filmagem cuidada leva a concluir por uma espécie de culturalismo, de opção pelo cinema de arte, de qualidade. É estranho notar que nos últimos anos, voltando à parceria com Diane Keaton, esse tom sorumbático tenha sido meio deixado de lado, em troca de uma liberdade, de um descuido audaz, de um desequilíbrio das partes.
Mas é nessa situação que Woody dá o melhor de si, reencontra a agudez dos diálogos e da observação. E recupera o essencial de seu cinema, que é o espírito inovador da grande comédia.
(IA)

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