São Paulo, sábado, 18 de fevereiro de 1995
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Militantes da ALN culpam delação pelo desmantelamento da guerrilha

DA REPORTAGEM LOCAL

Documento elaborado nos anos 70 por presos políticos que haviam pertencido à ALN (Aliança Libertadora Nacional) revela que aquela organização clandestina foi desmantelada com base em informações que a polícia obteve junto a seus próprios militantes.
O texto de 16 páginas, ao qual a Folha teve acesso, insiste no fato de a tortura ter sido o método de interrogatório. Só em casos excepcionais menciona ex-militantes que teriam dado voluntariamente informações, a partir das quais outros guerrilheiros foram presos.
A ALN, segundo o projeto "Brasil Nunca Mais" (compilação de casos de tortura no regime militar), foi o mais ativo dos 42 grupos clandestinos daquele período e 722 de seus militantes chegaram a ser processados pelos militares. Ela surgiu em 1967 como uma dissidência do PCB foi totalmente desmantelada em 1973.
O documento sobre as "quedas" (prisões ou mortes) não identifica seus autores ou a data em que foi redigido. Grande parte de suas informações está no condicional, diante da impossibilidade material de seus autores cruzarem os dados que chegaram a compilar.
Em 1969, ano em que a repressão oficial demonstrou maior empenho, o texto discorre sobre 32 prisões que permitiram, após interrogatórios, que um total de 148 guerrilheiros fossem encarcerados.
Desses 32 casos, 26 tiveram como pistas informações de prisioneiros que, sob tortura ou não, delataram seus companheiros.
Alguns fios da meada foram esclarecidos por puro acaso. No Rio, uma militante foragida foi identificada e presa na rua por um delegado de polícia, seu ex-colega de faculdade. Com sua "queda", outras cinco pessoas foram presas.
Em Brasília, um secundarista próximo da ALN foi denunciado pelos pais. A partir daí, outras 11 pessoas foram detidas.
O documento faz menção à sequência de prisões que levou, em 1969, à morte de Carlos Marighella, dirigente máximo da ALN.
A versão não é inédita: um militante foi preso e entre seus papéis havia o telefone dum frade dominicano. O convento daquela ordem passou a ser vigiado. Dois frades que se encontrariam com Marighella foram presos e levados a São Paulo, onde serviram de isca.

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