São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Quercista tenta reerguer TV Manchete

Folha Imagem

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A família Bloch conta com aliados do ex-governador Orestes Quércia para tentar reerguer a Rede Manchete de Televisão.
O publicitário Carlos Rayel, um dos principais assessores do governo Quércia (1987-91), é o mais importante trunfo da emissora no momento em São Paulo.
O aliado do ex-governador é diretor do departamento de eventos esportivos da Manchete e tem conseguido espalhar projetos que fazem a emissora crescer no interior paulista —um dos mais cobiçados mercados do país.
A força de Rayel na emissora fez renascer nos últimos meses uma suspeita que sobrevive pelo menos desde 1991: Quércia tem interesses comerciais e políticos e pretende em breve controlar a TV.
O fato de ter sido administrador das verbas publicitárias do Palácio dos Bandeirantes torna Rayel mais influente hoje na caça de anúncios e promoções no mercado das agências de propaganda.
O ex-governador, que já é dono de duas tevês regionais (TV do Povo, em Santos, e TV Princesa D'Oeste, de Campinas), nega o interesse em controlar a Manchete.
Quércia alega que a posse ou o controle majoritário de uma rede nacional de TV o deixaria em posição de concorrente com as outras empresas que cobrem todo o país.

Adversários
Segundo o argumento de Quércia, não seria politicamente viável se tornar adversário da Globo de Roberto Marinho, do SBT de Silvio Santos e da CNT do banqueiro e ministro José Eduardo Andrade Vieira (Agricultura) e de José Carlos Martinez.
Isso não seria interessante, do ponto de vista político. É o que costuma argumentar o ex-governador paulista.
Rayel ajuda o amigo a tentar eliminar as suspeitas de que pretende controlar a emissora.
"O meu negócio na Manchete não tem nada a ver com o Quércia, é uma parceria com a direção da emissora", disse. "O resto é suspeita sem fundamento".
O ex-assessor da gestão quercista tem como um dos seus principais projetos na emissora o "Bingão da Cesta Milionária".
Transmitido ao vivo para uma audiência de pelo menos 1 milhão de pessoas em 40 municípios, o sorteio é realizado na cidade de Jales (a 580 km a noroeste de São Paulo), cidade natal de Rayel.
Por conta da administração das verbas publicitárias do governo Quércia, o hoje diretor da Manchete foi denunciado pelo Ministério Público estadual, em 1992.
Ele é acusado de ter cometido o crime de enriquecimento ilícito —acumular uma vasto patrimônio que seria incompatível com os seus rendimentos de assessor no Palácio dos Bandeirantes.

Questão de tempo
Esse espisódio resultou em um processo na Justiça, que tramita na 3ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo.
"Vou me livrar dessa calúnia", diz Rayel. "É questão de tempo".
A Folha tentou falar com os diretores da Rede Manchete, no Rio, das 14h30 às 20h de anteontem. Assessores de Oscar Bloch —administrador da emissora— informaram que somente amanhã ele falaria sobre o assunto.
Bloch, segundo os funcionários da Manchete, precisaria consultar a diretoria jurídica, e isso não seria possível na sexta-feira.

Disputa
Vendida pela família Bloch em 1992 ao empresário Hamilton Lucas de Oliveira, dono da IBF (Indústria Brasileira de Formulários), o futuro da TV depende ainda de uma longa disputa jurídica.
Os Bloch conseguiram retomar a direção em outubro de 1993, alegando na Justiça que Oliveira não havia cumprido totalmente o contrato de venda.
Para ter a Rede Manchete, o dono da IBF teria que assumir uma dívida de R$ 85 milhões e pagar ainda R$ 8,5 milhões aos proprietários. O acordo, conforme os Bloch, não foi cumprido.
Segundo os antigos donos da TV, Oliveira não teria resolvido o problema das dívidas e pagou apenas R$ 7,4 milhões do que foi combinado.
O caso está nas mãos do Tribunal de Justiça do Rio, que deverá decidir este ano quem vai comandar a emissora.

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