São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Brasil ignora o mercado para aidéticos

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil ainda está na pré-história em matéria de oferta de produtos e serviços para pessoas portadoras do vírus HIV.
No mundo da publicidade, não há nada semelhante ao que se faz hoje nos EUA.
Não há anúncios de produtos para portadores do vírus ou doentes de Aids, não há um segmento de modelos especializados e, mais grave, falta orientação sobre a doença nas principais agências de modelos de São Paulo.
A Nike, fabricante de tênis e materiais esportivos, acaba de lançar uma campanha nos EUA que usa portadores do vírus.
A TV mostra um corredor enquanto o narrador diz: "Esse homem corre 10 milhas por dia. Esse homem corre dez maratonas por ano. Esse homem é HIV positivo. Just do it! Nike"
"Não estamos pensando em veicular esse anúncio no Brasil", diz Paulo Sabino, 38, diretor de criação da agência McCann-Erickson e responsável pela conta da Nike no Brasil.
"Não faria objeção, como diretor de criação, mas não vejo ainda no Brasil uma evolução suficiente para ter essa segmentação do mercado", diz Sabino.
Nas agências de modelos, que aceitam em seus elencos meninas a partir de 13 anos, não há nenhuma política de orientação a respeito dos riscos da Aids.
"Não cabe a mim fazer isso. Isso é educação que deve ser dada pela família e pela escola. A agência cuida da parte profissional. Não se mete nos problemas pessoais das modelos", diz Décio Ribeiro, diretor da Ford Models.
A agência de Ribeiro mantém oito modelos de fora de São Paulo em um apartamento onde é proibida a entrada de homens.
"Estou preocupado com a invasão do apartamento, mas não posso amarrar as meninas no pé da cama e proibi-las de sair de casa", diz Ribeiro.
A agência Elite mantém três apartamentos para "estrangeiros" em São Paulo. Em um deles, ficam as meninas consideradas "inexperientes" e nos outros dois as "encaminhadas". "As mais novas estão sob rédea curta hoje. Nosso meio é uma doideira", diz Ina Sinisgalli, diretora da Elite.

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