São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Vai quebrar

DEMIAN FIOCCA

A dolarização argentina não deve resistir por muito tempo. A desvalorização, o fim da conversibilidade do peso ao dólar ou o bloqueio de ativos financeiros são possíveis.
É natural que os novos ricos, que amealharam fortuna fazendo importações ou especulando nos mercados financeiro e acionário, refugiem-se em fatos de menor importância para não admitir que o erro está no cerne mesmo da política econômica.
Mas atribuir a crise às declarações infelizes de Menem ou aos "pessimistas e inimigos da estabilização" é tão inverossímil quanto supor que a crise que abala os mercados mundiais deveu-se à ação de duas centenas de camponeses do interior do México, disfarçados com caras pintadas de palhaço.
É inconsistente a estabilização baseada na abertura radical de importações, na valorização do câmbio e na desregulamentação financeira. Beneficiam-se as importações em detrimento da produção nacional, deteriorando as contas externas.
Atraem-se divisas com privatizações e juros altos. Mas a capacidade do Estado de oferecer prêmios ao capital financeiro se esgota. E nesse ponto (em que a Argentina está), a desregulamentação cobra a conta. As reservas do país saem rapidamente. A estabilização fracassa em recessão e inflação devido ao estrangulamento externo.

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