São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Altos e baixos marcam política de Clinton

JAMES BAKER 3º

Ação externa é bem-sucedida quando se baseia em políticas que têm continuidade ou em preocupações econômicas
JAMES BAKER 3.º
A administração Clinton está no governo há dois anos e sua condução da política externa é um misto frustrante de forças e fraquezas. Sua reação à crise financeira mexicana oferece bons exemplos.
A abordagem da administração, fundamentada na compreensão do interesse que os EUA têm na estabilidade mexicana, tem sido essencialmente correta. Mas, como acontece quando esta administração está correta nas questões fundamentais, a forma pela qual vem administrando a crise tem sido inepta e desajeitada.
Temendo reação política interna adversa, o presidente demorou a esboçar reação à crise financeira e oferecer um pacote de socorro. Teria sido melhor se Clinton tivesse optado por demonstrar suas intenções claramente e anunciar o propósito de utilizar parte do Fundo de Estabilização Cambial do Departamento do Tesouro.
Depois, tendo adequado suas ações a seu discurso, Clinton poderia buscar apoio do Congresso para um pacote de socorro mais amplo, com alguma possibilidade de convencer o Congresso dos interesses nacionais em jogo.
Este desnível entre a substância e a administração da política externa explica parte do desempenho desigual. É verdade que ele tem tido êxitos, notadamente no comércio e investimento internacional.
Mas há outras áreas (Somália, Coréia do Norte, Otan, Bósnia, China, Japão e Rússia) onde seu desempenho tem sido mais ambíguo.
A administração Clinton alega, com razão, que herdou alguns de seus "problemas"de política externa dos governos anteriores. Mas a mesma coisa aconteceu com todos os governos, desde que John Adams tomou posse, sucedendo a George Washington. E a administração Clinton, assim como todas as anteriores, também herdou "soluções"de política externa de seu predecessor - sobretudo o fim bem-sucedido da Guerra Fria.
Diferentemente das administrações desde a de Harry Truman, a de Clinton não enfrenta o risco de que qualquer crise se multiplique até transformar-se num confronto EUA-URSS. Quando se faz uma retrospectiva dos últimos dois anos, evidenciam-se padrões que ajudam a explicar os êxitos e fracassos da política externa.
Por exemplo, quando confrontada com uma crise inesperada a administração tende a apresentar uma reação inicial de confusão e inação - colapso do peso mexicano ou da iniciativa militar russa contra a Tchetchênia. Mas ela tem sido bem-sucedida nos casos em que sua abordagem se baseia em políticas que têm continuidade.
Talvez esse padrão tenha sido mais evidente no caso do processo de paz no Oriente Médio, onde a administração deu continuidade ao processo iniciado na Conferência de Paz de Madri, em 1991, tendo obtido bons resultados.
Nos casos do Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio) e do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) Clinton merece notas altas pela continuidade que deu a negociação.
Fato semelhante se deu com a Apec (Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), caso em que avanços em direção à redução de barreiras comerciais e investimentos representam continuação do trabalho iniciado por Bush.
A administração tem procedido bem quando suas políticas são expressas em termos da economia nacional. Questões relativas a crescimento e nível de emprego captam a imaginação do presidente. É por isso que os instintos essenciais da administração em relação à crise financeira mexicana acertaram o alvo perfeitamente.
O Nafta e o Gatt são exemplos semelhantes. De início a administração demonstrou apoio parcial. Mas quando argumentos econômicos se tornaram claros, a administração entrou em ação. A virada na posição em relação ao status de nação mais favorecida para a China também reflete sua capacidade de enxergar o que realmente interessa em termos econômicos.
Depois de levar as relações entre EUA e China à beira do abismo, a administração finalmente reconheceu os custos econômicos de suas políticas e as reverteu.
Mas o governo não tem tido o mesmo grau de acertos quando permite que suas políticas sejam ditadas por interesses especiais. Por exemplo, sua abordagem à Macedônia é esquizofrênica.
Os EUA têm 500 soldados das forças de paz no local, para assegurar a integridade de uma nação cuja existência reconhecemos mas para onde nos recusamos a enviar um embaixador, para não ofender o lobby grego-americano.
A administração entregou a condução de sua política haitiana ao Congressional Black Caucus (grupo de pressão dos deputados negros) e com isso embarcou numa política de intervenção militar de alto custo e alto risco.
Mais do que a preocupação com considerações políticas, porém, é uma sensação de mal-estar com o poderio norte-americano e relutância em utilizá-lo que têm resultado nos fracassos da política externa.
Na questão da Bósnia, a retórica não vem acompanhada por decisões militares. Isto solapa a credibilidade do presidente e provocou discussões com aliados na Otan.
Na Coréia do Norte, a administração cedeu, retirando qualquer ameaça de recurso à força. Na ausência dessa ameaça, não chega a surpreender que o acordo tenha empurrado a discussão dos atuais armamentos nucleares norte-coreanos para daqui a cinco anos.
Essa lição não passará desapercebida de Teerã, Trípoli e outros candidatos a proliferadores nucleares. Tampouco passou desapercebida dos inseguros aliados americanos no Extremo Oriente.
Esta insegurança com o uso do poderio dos EUA resultou em timidez na expansão da Otan. A administração tem se esquivado de pedir a inclusão imediata da Polônia, Hungria e República Tcheca.
Essas novas democracias merecem garantia de segurança clara e inequívoca dos EUA e da Otan. O que elas receberam foi uma vaga promessa de eventual inclusão. Temerosa de exercer o poder americano, confrontada com objeções de Moscou, a administração Clinton vem permitindo que a segurança permaneça incerta.
A posição adotada por Moscou em relação à Tchetchênia exige que os EUA ajam com vistas à ampliação da Otan. E faz com que seja imperativo que os EUA adotem política de promover a reforma na Rússia e apoiar a independência dos vizinhos da Rússia.

Copyright Los Angeles Times Syndicate

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