São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995 |
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Bolha financeira vai invadir o século 21
GILSON SCHWARTZ
Três fenômenos em particular já definem esse mundo: a desconexão entre a esfera financeira e a da economia real, a incerteza estrutural e a expansão infinita do campo da comunicação ou da informação. As fronteiras do Estado continuam móveis: até geograficamente. Os acordos de comércio regional destroem fronteiras alfandegárias, mas criam também novas culturas empresariais e de consumo. As fronteiras conceituais do Estado Nacional também se movem: das organizações não-governamentais à falência dos sistemas de previdência social. Os fundos financeiros internacionais têm maior volume e agilidade do que os fundos nacionais e os associados ao comércio. A liberalização financeira, vetor desses desenvolvimentos, está bem instalada no coração de cada economia relativamente viável do planeta. É possível estabelecer limites para essa internacionalização financeira em larga escala? Fechar as portas à entrada é ferir o princípio de reciprocidade e muitos consideram esse pecado imperdoável. Ao mesmo tempo, casos interessantes de sucesso, como o Japão e a Coréia, ou Chile recentemente, usam de modo consistente barreiras e limites constitucionais ao capital e às mercadorias estrangeiras. Outro fato fundamental é a perda, pelos Estados Nacionais, de instrumentos importantes de legitimação política (crise fiscal e da previdência) e econômica (crise fiscal e recurso a fundos externos). No caso mexicano, o apoio material e econômico dos Estados Unidos é análogo ao que se presta por exemplo a Israel, certamente a experiência heterodoxa de estabilização mais bem sucedida e tema de relatório recente do FMI. A bolha financeira, em contraponto às fragilidades políticas e econômicas nacionais, move-se e conforma-se rapidamente, buscando a expansão nos territórios de menor risco. A avaliação do risco local convive com a ansiedade frente ao que se poderia denominar de "risco sistêmico". Assim, o Brasil pega resfriado com o espirro do México justamente porque já está inserido na bolha global e abalos no sistema são, imediata e automaticamente, abalos locais também. Para enfrentar a incerteza estrutural da bolha financeira planetária aumenta o volume e a qualidade da informação sobre o meio-ambiente sócio-econômico e político. Na semana passada, um economista sugeriu a criação de uma espécie de novo observatório no FMI, para monitoramento permanente das economias emergentes. Nesse contexto, ser considerado "cucaracho" ou "latino" pode ser mais relevante que dispor de X ou Y bilhões em reservas. Essa dimensão simbólica, política e cultural da economia é portanto o traço mais vital e novo da dinâmica econômica contemporânea. A política econômica não apenas passa por política de comunicação como em alguns momentos praticamente se reduz a isso. O real passa pelo imaginário e muitas vezes até o pressupõe. Os interessados na bolha financeira do século 21 podem ler "Le Destin de la Bulle Financière", de Christian de Boissieu, na revista "Futuribles" de novembro de 1994. Texto Anterior: The New York Times; The Independent Próximo Texto: 'Índio' lança candidatura na França Índice |
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