São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 1995
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Crescem fusões e aquisições de empresas

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

As Bolsas de Valores estão registrando anúncios quase diários de fusões e aquisições de empresas de capital aberto. O movimento se acentuou com o Plano Real, principalmente a partir do final de 94.
Os exemplos mais recentes são a venda pela Moinho Santista de sua subsidiária Karibê para a Lansul por R$ 24 milhões. A Bombril vendeu 25% de suas ações ON para a Henkel, mas o controle continua com o grupo italiano Cragnotti & Partners. A Sul América adquiriu a Iochpe Seguradora. A família Villares vendeu parte de sua participação na Indústrias Villares e agora detém 32,6% da companhia, ficando a Acesita com 31%, o grupo Sul América com 20% e o restante com o mercado.
A vitória de Fernando Henrique nas eleições deu maior garantia na continuidade do programa de estabilização econômica, motivando o fechamento dos negócios de compra e venda de empresas. Aumentou a disposição das empresas estrangeiras de realizar investimentos diretos no país.
Segundo dados do Banco Central, os investimentos estrangeiros diretos (produtivos) líquidos (ingressos menos os retornos) totalizaram US$ 1,764 bilhão nos primeiros 11 meses de 1994 (último dado disponível), contra US$ 397 milhões em todo o ano de 1993.
As instituições financeiras também estão bastante atuantes em termos de participação como intermediárias entre a compra e venda das empresas ou mesmo na realização de programas de parceria.
Giampaolo Baglioni, diretor do Banco Patrimônio, associado à Salomon Brothers, diz que, independente da crise do México, os investidores acreditam em boas perspectivas para o Brasil.
Baglioni disse as empresas enxugaram individualmente suas estruturas a partir do Plano Collor (em 1990) e agora está ocorrendo um fenômeno de concentração em alguns setores.
Ele observa que o setor de autopeças caminha para a redução do número de empresas pela metade a curto prazo, mantida as condições de abertura da economia.
As montadoras estão exigindo padrões de qualidade internacionais e com preços competitivos.
Há também a expectativa de que, com as reformas constitucionais, os bancos estrangeiros passem a participar da privatização de instituições estaduais.
O Mercosul está propiciando negócios importantes também no campo de fusões e aquisições. Baglioni —sem querer dar detalhes— disse que deverá anunciar para breve a compra de uma empresa argentina por uma brasileira.
Dan Lavacek, diretor da consultoria e auditoria internacional Coopers & Lybrand, diz que os investidores nacionais e estrangeiros estão adquirindo empresas já em funcionamento, de forma a ganhar tempo. Um projeto de compra de terreno e montagem de fábrica costuma levar três anos.
Lavacek diz que os empresários que vendem suas companhias estão sendo motivados por diversas razões. A abertura da economia tem exigido investimentos em tecnologia e qualidade e algumas vezes faltam recursos para se manter na competição pelo mercado. Há algumas empresas em que os herdeiros não têm interesse ou mesmo capacidade administrativa para manter a companhia funcionando com lucratividade.
Empresas que viviam da reserva de mercado não investiram em pesquisa e tecnologia e deixaram também de ser competitivas, em um contexto de redução nas tarifas de importação de produtos a preços bem menores do que os praticados no mercado local.
Ele diz que está havendo, por exemplo, forte interesse de investidores para a compra de empresas da indústria farmacêutica.

Mercosul
Dan Lavacek, especialista em finanças corporativas da Coopers & Lybrand, acrescenta que deve haver também crescente fechamento de negócios de compra e venda de empresas argentinas e brasileiras, por causa do Mercosul.
Robert Blocker, da Blocker Assessoria de Investimentos e Participações, diz que com a inflação a 50% ao mês havia muita dificuldade de se encontrar investidores estrangeiros interessados em adquirir empresas brasileiras. A estabilização econômica abre agora novas oportunidades, diz.
Roger Hipskind, também diretor da Blocker, diz que as reformas constitucionais devem incentivar os investimentos estrangeiros. O programa de privatização deve gerar para o governo Fernando Henrique um montante de US$ 15 bilhões.
André Castellini, diretor da Value Partners, diz que as empresas estão com pressa de acompanhar o crescimento no Brasil e usam o processo de fusão e aquisição de forma a "pegar o trem andando".

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