São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 1995
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Sarney amplia seu poder e isola PSDB

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), conseguiu montar uma rede de poder no Senado que lhe dá controle sobre as mais importantes comissões permanentes da Casa e isola totalmente o PSDB, partido do presidente Fernando Henrique Cardoso.
PFL e PMDB ficaram com as presidências de 6 das 7 comissões, cinco delas (as mais importantes) ocupadas por aliados políticos do senador do Amapá. O PSDB ficou com a de Assuntos Sociais —de pouco prestígio político— e protestou, mas não conseguiu ficar com a de Assuntos Econômicos.
Os principais parceiros de Sarney para a montagem do seu esquema político são os líderes dos dois maiores partidos no Senado, Hugo Napoleão (PI), do PFL, e Jáder Barbalho (PA), do PMDB, ambos ex-ministros em seu governo (1985 a 89).
Os dois líderes indicaram para as presidências das mais importantes comissões ex-ministros ou simples aliados políticos de Sarney.

Os sarneyzistas
A Comissão de Assuntos Econômicos ficou na mão do maior cabo eleitoral sarneyzista na disputa pela presidência do Senado, Gilberto Miranda (AM).
Para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça foi indicado o ex-ministro da Agricultura de Sarney, Iris Rezende (GO). E a Comissão de Relações Exteriores ficou com o também ex-ministro (Comunicações) de Sarney, Antônio Carlos Magalhães (BA).
A Comissão de Fiscalização e Controle —que tem poder de fiscalizar e controlar os atos do Executivo e não foi instalada na legislatura passada— ficou com o senador Alexandre Costa (PFL-MA), amigo pessoal de Sarney.
A Folha apurou que os senadores do PSDB avaliam que Sarney pretende ser para Fernando Henrique Cardoso o que o ex-deputado Ulysses Guimarães foi para ele: um poder paralelo.
Através das comissões, o presidente do Congresso controla a tramitação dos projetos no Senado. São os presidentes destas comissões que indicam os relatores das matérias, encarregados de analisar as emendas e apresentar parecer.
A disputa pelo comando das comissões ameaçou a base de apoio do governo, segundo o PSDB.
"Nós queríamos que fosse mantido o critério da proporcionalidade, pelo qual caberia a nós presidir a terceira comissão. O critério não foi respeitado", disse o líder dos tucanos, Sérgio Machado.
Segundo Machado, o próximo "embate" será a escolha das relatorias das emendas constitucionais no Senado. Mas o líder do PMDB, Jáder Barbalho, disse que o fato de ser "o partido do governo conspira contra o PSDB, porque as emendas são do governo".

Ação contra anistia
O Congresso Nacional talvez tenha que, em breve, explicar à Justiça a decisão de anistiar o senador Humberto Lucena (PMDB-PB) e mais 13 parlamentares.
Esses congressistas tiveram os registros de suas candidaturas cassados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por uso da gráfica do Senado em suas campanhas para a eleição do ano passado.
Ontem o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), José Roberto Batochio, entrou no STF (Supremo Tribunal Federal) com uma ação direta de inconstitucionalidade contra a lei de anistia.
A ação aponta a quebra do princípio de moralidade pública, prevista no artigo 37 da Constituição. "O Congresso Nacional abusou de sua competência, desviando-se de sua função ao legislar em causa própria", disse Batochio.

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