São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 1995
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Glamour dos 70 reina com Véronique Leroy

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

A estilista belga Véronique Leroy trouxe a década de 70 —considerada cafona— de volta à moda. Sua explicação é simples: "gosto do que é comum. Os anos 70 eram ordinários demais".
Aos 30 anos, Leroy diz que sempre sonhou com moda. Saiu da Bélgica aos 18 anos rumo à Paris "porque foi o jeito mais fácil de entrar para o meio da moda", diz em entrevistra exclusiva à Folha.
Leroy classifica sua moda como agressiva e provocante, adjetivos que também usa para definir o trabalho de seus estilistas favoritos, Karl Lagerfeld, Yves Saint Laurent, Thierry Mugler e Azzedine Alaia —de quem já foi assistente. Leia a seguir os trechos da entrevista.

Folha - Qual a relação da sua moda com os anos 70? Você gosta dessa ligação?
Véronique Leroy - O que me irrita não é a comparação, mas o fato de que muitas pessoas usam a data para definir algo muito vago. Os anos 70 significam muita coisa e eu gosto de mexer com eles. Só que minha coleção inspirada no seriado "As Panteras" já tem dois anos.
Folha - Do que você gosta?
Leroy - Minha coleção passada foi inspirada em bandas como ZZ Top, Scorpions, música disco etc. Minha moda muda, mas conserva sempre um lado colorido e otimista.
Folha - Por que esta época foi tão importante para você?
Leroy - É o que conheço bem, é a minha infância. Sou da geração "séries de TV".
Folha - Esta moda otimista estaria voltando nos anos 90?
Leroy - Sim, esta volta é bem marcante. Todo mundo parece estar querendo seduzir, agradar, fazer um esforço para se vestir bem. Há cinco anos era vergonhoso ter este tipo de desejo; ninguém tinha coragem nem de usar esmalte nas unhas ou salto agulha.
Folha - Você acha que é porque a moda é cíclica ou é só mais um momento de otimismo?
Leroy - Espero que sejam as duas coisas. É claro que a moda é cíclica, e tudo o que surge é em reação a algo, Mas há um certo otimismo no ar.
Folha - Qual é o espírito que domina a moda hoje?
Leroy - Há a tendência do glamour. A única diferença é que já se passaram 20 anos. Hoje tudo está muito sexy e há uma afirmação muito grande da feminilidade. Mas são os mesmos sentimentos.
Folha - Como explica a sua paixão pelo que é comum, fazendo uma moda glamourosa?
Leroy - Há dez anos, quando a moda estava nas mãos dos japoneses, tudo que era glamouroso e colorido era feio, comum, ordinário. Eram as roupas de uma mulher considerada extravagante. Eu gosto do lado comum das coisas. Elas se tornaram tão normais que ninguém mais presta atenção nelas. Foi assim que conseguimos trazer de volta o glamour, sublimando o lado comum das coisas.
Folha - Você falou também que "a vulgaridade não quer dizer mais nada". Pode explicar?
Leroy - Não acredito que as coisas sejam vulgares, mas sim a maneira de fazê-las é que é. Prefiro uma coisa mais feia e vulgar do que algo morno.
Folha - Você é belga, mas sua moda não reflete o espírito da moda desconstrutivista dos 80.
Leroy - Achei ótimo o surgimento de uma moda belga. Ao mesmo tempo, me dá um pouco de medo porque faz parte de pequenos movimentos. Tenho medo de rótulos. Não tenho pontos em comum com a moda belga, não vestimos a mesma mulher.
Folha - O que vai acontecer com eles agora, na sua opinião?
Leroy - Neste momento em que as pessoas querem mais luxo, acho que eles vão ter que repensar sua moda. Fazer moda não significa que, se daqui a cinco anos as pessoas não quiserem mais glamour, estarei desempregada.

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