São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Covas desmonta aparato social do Estado

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB) paralisou vários serviços sociais que atendiam justamente a população mais carente do Estado.
Hoje, cerca de 2,7 milhões de contribuintes, que se beneficiavam de programas do governo, estão sem essa assistência.
Usuários de escolas, creches, oficinas culturais e escolinhas de esporte se queixam dos cortes promovidos pelo tucano em 60 dias.
Desde que assumiu, Covas decidiu demitir funcionários para reordenar o formato do aparato estatal, inchado na administração de ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB).
Muitos dos usuários defendem o enxugamento da máquina e o fim do Baneser (subsidiária do Banespa que contratava mão-de-obra para o Estado sem concurso público), mas acham que houve precipitação no ritmo dos cortes na como Educação, Cultura, Esportes, Criança e Meio Ambiente.
Os secretários dessas pastas estão com as mãos amarradas —estão sem funcionários (só na Secretaria da Cultura houve 1.500 demissões, ou 70% do quadro pessoal), sem verba e, pior, ainda não puseram em prática alternativas. A população se ressente disso.
"O Covas está cortando e não está colocando nada no lugar. Espero que o governo se conscientize que de que a gente não tem onde deixar os filhos", disse Dirce Nascimento da Silva, 61, avó de Meire, 12, que frequenta o Clube da Turma, equipamento esportivo de Itaquera (zona leste de São Paulo).
Dirce, segurando cartaz de protesto, participou na última terça-feira de manifestação contra o fechamento de equipamentos da Secretaria da Criança, Família e Bem-Estar Social.
O próprio governo reconhece que a corda estourou na "ponta da linha", ou seja nos serviços que atendiam os mais pobres.
"O governo está preocupado com isso, e está tentando viabilizar esses serviços de outra forma", disse Antonio Luiz Calderaro Teixeira, 46, coordenador de planejamento e avaliação da Secretaria do Planejamento.
Segundo Calderaro, o fim das escolinhas de futebol, por exemplo, preocupa o governo. "É uma forma de tirar as crianças das ruas". Mas o coordenador ressalvou que "é preciso ser feito um sacrifício nesse momento" e que áreas essenciais da educação e da saúde estão funcionando.
Dois deputados estaduais tucanos recém-eleitos, procurados pela Folha, admitiram que o Estado parou setores sociais, mas pediram para não serem incluídos na reportagem. "Me tira dessa, vai", solicitou um dos parlamentares.
O PT, normalmente crítico aos seus adversários, concorda com Covas em relação ao fim do Baneser. "Ele tinha de acabar com o Baneser, que era um foco de apadrinhamentos políticos", disse o deputado Luiz Carlos da Silva, 39, vice-líder da bancada petista.
Mas ele acha que houve exagero na dose e que Covas vai precisar usar do recurso de realizar contratações emergenciais.
O petista citou as demissões na Secretaria de Meio Ambiente, que atingiram técnicos que monitoram áreas de risco na Serra do Mar e parques ecológicos.
A Folha apurou que o secretário de Meio Ambiente, Fábio Feldmann, determinou, por exemplo, que funcionários sob "aviso prévio" —e portanto desmotivados— levantem todas as áreas de risco em Cubatão antes que os contratos de trabalho terminem, em março.
O deputado peemedebista César Calegari é duro com Covas. "Parece que São Paulo elegeu um contador e não um governador. Destruir esses programas é fácil. Difícil será reconstruí-los", alerta.

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