São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Maluf marca data para iniciar campanha

VAGUINALDO MARINHEIRO; CLAUDIO AUGUSTO

Posso lhe garantir que 99% do funcionalismo público do Brasil ganha menos que o de SP
Folha - O senhor é contra ou a favor da emenda constitucional que permite a reeleição de cargos do Executivo?
Maluf - Eu fui aleito até 1º de janeiro de 97 e vou cumprir o meu mandato. Se houver uma emenda que permita a reeleição do meu sucessor, eu sou a favor. Na atual administração, a minha bancada vai votar contra a reeleição. Mas votará a favor da reeleição do sucessor do meu sucessor, do sucessor do Mário Covas, do sucessor do Fernando Henrique.
Folha - O que o senhor vai fazer depois de janeiro de 97?
Maluf - Em primeiro lugar, acho que mereço dois meses de descanso.
Folha - E a partir de março de 97?
Maluf - Vou percorrer o Brasil.
Folha - Em campanha?
Maluf - Eu gosto de fazer turismo pelo Brasil (risos).
Folha - Mas o senhor sempre preferiu Nova York ou a Europa...
Maluf - Já tem aí um grande argumento pelo qual eu sou contra a reeleição agora. Já te dei o argumento. Você é um homem inteligente.
Folha - Conte como vai ser a sua campanha.
Maluf - Eu acho que se eu posso contribuir com o sucesso do governo Fernando Henrique, eu contribuo não debatendo esse problema hoje. Ele assumiu há um mês e pouco e eu já vou debater a sucessão dele?
Folha - Passados dois anos de governo, há pontos em seu programa de campanha que não foram cumpridos e outros em que suas medidas foram exatamente de encontro ao programa. Por exemplo: a) o senhor disse que iria ampliar as ações de orientação e tratamento de Aids, mas acabou com o serviço Projeto-Aids, que orientava pais e professores; b) disse que manteria a lei 10.688, que determina que o gasto com folha de pagamento fique entre 47% e 58% da receita da prefeitura, e no começo do mês mandou projeto para a Câmara extinguindo essa lei; c) disse que a CMTC seria exclusivamente operadora, hoje ela é exclusivamente fiscalizadora; d) o senhor disse que a coleta seletiva seria ampliada e a Folha flagrou que o lixo separado pelas pessoas naqueles containers coloridos é misturado depois pelos funcionários da prefeitura.
Maluf - A Folha cita quatro pontos que podem ser discutidos, mas precisaria de uma edição especial para eu falar de 300 outros pontos que foram feitos a mais do que a gente assumiu de compromisso. Sobre a Aids, pelo que eu sei, esse trabalho está sendo feito.
Folha - Mas o Projeto-Aids, que era para orientação de pais e professores, foi desativado e a prefeitura cancelou agora a compra de um milhão de camisinhas.
Maluf - Isso é um problema administrativo do secretário. Se o secretário acha que 400 mil camisinhas em estoque são suficientes, nós não vamos comprar. Folha - E a questão da lei dos salários?
Maluf - O editorial da Folha me parabenizou pelo fim desta lei. O meu compromisso valeu até o momento em que essa lei, que é um entulho inflacionário, dava justiça social. A folha de pagamento real da prefeitura, que era de US$ 54 milhões em fevereiro de 94, hoje está em US$ 120 milhões. Houve um aumento real de 100%. Agora, o administrador responsável é aquele que paga suas contas, e a prefeitura pagas suas contas em dia.
Folha - Então por que o senhor assumiu o compromisso em campanha de que não alteraria lei?
Maluf - O compromisso foi mais do que cumprido. Eu posso lhe garantir que 99% do funcionalismo público do Brasil ganha menos que o de São Paulo. Essa lei era uma armadilha. A arrecadação de fevereiro foi de R$ 269 milhões e a folha, com aumento previsto de 81%, iria para R$ 270 milhões. A prefeitura iria arrecadar para pagar a folha. O que eu fiz não foi criticado pelo funcionalismo.
Folha - E o caso da CMTC?
Maluf - Quando eu cheguei à prefeitura, a CMTC tinha U$ 40 milhões por mês de subvenção. E não era porque a passagem era cara ou barata. Era porque os particulares tinham 4 funcionários por ônibus e a CMTC, 11. A prefeitura gastava por ano US$ 1 bilhão em transporte. Esse dinheiro era para derrubar o Bill Clinton, não um prefeito.
Folha - O senhor sempre fala em US$ 1 bilhão, mas em 93 o total gasto com o transporte foi de R$ 372 milhões.
Maluf - Não, esse dado está errado. O gasto era de cerca de US$ 500 milhões para a CMTC e mais ou menos a mesma coisa para as empresas particulares através da municipalização.
Folha - São dados oficiais da CMTC e na verdade o senhor continua gastando com a CMTC, porque não houve uma privatização. A empresa não foi passada para o setor público. O que houve foi uma terceirização das linhas. A empresa ainda existe e é da prefeitura. E a empresa continua devendo US$ 315 milhões.
Maluf - Eu não posso deixar de pagar os ônibus que as gestões Jânio e Erundina compraram.
Folha - E a coleta seletiva?
Maluf - A coleta seletiva faz parte de um plano maior do lixo e deverá ser quase global na cidade.
Folha - Então, por que ela está abandonada?
Maluf - A coleta seletiva custava US$ 350 a tonelada enquanto a coleta normal custava entre US$ 22 e US$ 24. Os custos eram incompatíveis. O que existia era uma falsa coleta seletiva. Vamos ter uma coleta seletiva monstro. É toda ela mecanizada. Esse plano todo, se não tiver muita exigência de ordem burocrática, em dois anos estará funcionando.

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