São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Descobertas publicadas em 1905 revolucionaram ciência do século

CÁSSIO LEITE VIEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Albert Einstein fez de 1905 a ano milagroso da ciência. Três trabalhos daquele ano permanecem como a maior contribuição intelectual que um só homem poderia dar à ciência deste século.
Poucas vezes a filosofia e a ciência —respectivamente, segunda e terceira maiores instituições humanas— foram tão remodeladas. À primeira delas (a justiça), Einstein emprestaria sua pena mais tarde (leia texto acima).
Disse o físico alemão Max Born (1882-1970): Einstein poderia nunca ter escrito uma só linha sobre a relatividade, e mesmo assim seria um dos maiores físicos deste século. Ainda em 1905, além da Teoria da Relatividade Restrita, publicou dois trabalhos geniais: um sobre o efeito fotoelétrico (que lhe rendeu o Nobel de 1921) e outro sobre o movimento browniano.
Cresceu a fama do autor, e logo "Eletrodinâmica dos Corpos em Movimento" virou só Teoria da Relatividade —mais especificamente, Teoria da Relatividade Restrita (ou Especial).
"Tudo é relativo" foi a forma popular de sintetizar a admiração e uma compreensão rasa da teoria. "Creio haver só 12 homens no mundo capazes de compreender essa teoria. Eu mesmo não me incluo entre esses 12", disse o britânico Joseph John Thomson (1856- 1940), descobridor do elétron.
Em 1916, veio a Teoria da Relatividade Geral, englobando agora a gravitação. Três anos depois, a teoria seria confirmada.
Mas nem as sete estrelas fotografadas no céu de Sobral (Ceará), em 1919, durante um eclipse solar garantiram a indicação da teoria para o Nobel. O desvio da luz, previsto por Einstein, estava nas chapas, mas críticas continuavam.
Algumas, ideológicas, deixavam transparecer que a teoria era obra de um judeu. Outras, infundadas, eram de gente que resistia às mudanças. As medíocres vinham da ala que não entendia a teoria ou queria se autodivulgar.
Na dúvida, o Comitê do Nobel resolveu dar o prêmio pelo efeito fotoelétrico, consensual na época. Um ano depois, os raios de luz de 118 estrelas "entortaram-se" ao passarem próximos ao Sol. A teoria resistiu a todas as provas.
Diz-se que ao ser perguntado como se sentiria se os resultados fossem contrários às suas previsões respondeu: "Sentiria muito pelo bom Deus, porque minha teoria está correta." A natureza se comportou segundo seu mando.
Em meados da década de 1920, o microuniverso dos átomos começou a desmanchar o mundo mecanicista de Einstein. Grosso modo, descobriu-se que a teoria era probabilística: só se podia afirmar a probabilidade de algo acontecer, nunca dizer com absoluta certeza.
Para Einstein, idealizador de um mundo inteiramente previsível, era impossível conceber que "Deus jogasse dados com o universo". Para ele, a falta de certeza, isto é, a natureza probabilística decorria do fato da nova teoria quântica estar ainda incompleta.
Mesmo isolado pelas novas descobertas, Einstein continuou pensando "cem vezes mais na teoria quântica do que em outro assunto". O resultado foi que, em 1935, publicou sua resposta à teoria.
Famoso, o experimento foi batizado "experimento EPR" (de Einstein, Podolsky e Rosen, dois auxiliares). Ele tentou provar que "Deus era sutil, mas não malicioso", rejeitando a hipótese probabilística introduzida por Max Born.
A publicação do EPR causou alvoroço. Alguns arriscaram sem êxito uma resposta. Esperava-se pela manifestação do dinamarquês Niels Bohr, que viria depois.
Nela, Bohr reafirmou seu princípio da complementaridade, de 1927, mostrando que o micromundo era mesmo probabilístico. Paciência. E Einstein deveria se conformar com isso. Prótons, nêutrons e elétrons, as menores entidades então conhecidas, resolveram desobedecer à maior figura do século.
(CLV)

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