São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Produtos piratas inundam a China

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Produtos piratas inundam a China
Até livro do dirigente Deng Xiaoping foi copiado sem autorização por uma editora chinesa
Roupas esportivas com a etiqueta Adidas falsificada, programas de computadores pirateados, lâminas de barbear que reproduzem a embalagem da Gillette formam as armadilhas da nova sociedade de consumo chinesa.
Nesse mar de desrespeito a patentes e direitos autorais, nem o líder máximo do país, Deng Xiaoping, escapou: seu livro foi copiado por uma editora que não se dignou a pedir permissão.
Embora a pirataria atinja até o comunista Deng Xiaoping, as maiores vítimas costumam ser empresas estrangeiras, especialmente as norte-americanas.
O caso gritante envolve os compact-discs, trazidos do exterior e copiados sem qualquer cerimônia em 29 empresas espalhadas pelo sul da China.
Os CDs piratas, de música pop chinesa à Madonna, saem por cômodos 10 yuans (cerca de US$ 1,2), num comércio ilegal mas frequente no centro de Pequim.
Turistas e estrangeiros constituem o alvo principal do sacoleiros chineses que andam com a mercadoria acondicionada em grandes bolsas, ou, mais discretamente, dentro do casaco.
O ar de contrabando desaparece nos mercados populares. As barracas se entulham com roupas fabricadas na China e carimbadas com uma grife estrangeira de prestígio.
Um conjunto esportivo Playboy carrega uma plaquinha com o preço: 65 yuans (US$ 8).
O mercado, no bairro de Hai Dian (centro de Pequim), também oferece bonés decorados com a marca Adidas pelo preço de 15 yuans (US$ 1,9).
Ao lado dessa barraca, uma pequena loja aumenta a oferta de produtos esportivos com tênis de empresas famosas.
A marca, Reebok, ou Puma, aparece escancarada, mas na hora de encontrar a origem do produto fica difícil. Não existe indicação de onde esses pares de tênis de couro tenham sido fabricados, mas os preços provocam suspeita: cerca de 150 yuans (US$ 18).
O bairro de Zhongguancun, na capital, com suas dezenas de lojas de computadores, programa uma vasta variedade de produtos para os amantes da informática, entre os quais reproduções piratas e falsificações.
Na calçada, vendedores ambulantes tentam empurrar seus produtos falsos. Carregam fita para impressora Epson por 5 yuans.
Nas lojas que respeitam as regras do mercado, a mesma mercadoria, importada do Japão, custa mais: 16 yuans.
No começo do mês, a polícia fez uma operação pente-fino pelas ruas de Zhongguancun e apreendeu 30 mil disquetes falsos com a marca Maxell. A mobilização veio depois de reclamações feitas pela Maxell Asia, sediada no Japão.
As autoridades chinesas usam as páginas dos jornais locais para propagandear seus esforços no sentido de sufocar o mercado de produtos falsos ou pirateados.
Mas se as medidas chegam a inibir os corsários, elas ainda estão longe de resolver o problema.
Pequim sabe que uma parte de sua economia ainda depende dessas infrações para sobreviver.

Livro de Deng
Sem pedir permissão ou pagar direitos autorais, Wu Wangsheng imprimiu 15 mil cópias do terceiro volume de As Obras Escolhidas de Deng Xiaoping, uma espécie de Bíblia hoje em dia para o Partido Comunista justificar sua opção pela via capitalista.
Os lucros de Wu somaram 20.000 yuans, mas, preso, teve que pagar uma multa no valor de 5.000 yuans e, pior, foi condenado à prisão perpétua.

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